Qual o preço da vida? O alto custo das novas drogas oncológicas
SÃO PAULO [ ABN NEWS ] - Comemora-se nesta sexta-feira, 27 de novembro, o Dia Nacional de Combate ao Câncer quando será divulgada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2008, que pela primeira vez trará informações sobre tabagismo no Brasil. No dia 24 último, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) apresentou à imprensa os destaques da publicação Estimativa 2010 - Incidência de Câncer no Brasil, mostrando que são esperados para o próximo ano cerca de 490.000 novos casos de câncer, perto de meio milhão, mostrando que a incidência está aumentando a cada ano e que poderia ser reduzida com ações preventivas.
Cada vez mais pesquisadores e a indústria farmacêutica têm investido em medicamentos específicos para cada tipo de câncer e neste ano alguns congressos internacionais estabeleceram como tema principal as chamadas terapias personalizadas, que são feitas "sob medida" para alguns tipos de tumores. Contudo, alguns desses medicamentos, são capazes de aumentar o tempo de vida por poucos dias, uma semana, um mês. Esse ganho representa um grande avanço da medicina, mas tem levado a questionamentos como: qual o valor de alguns dias de vida? A resposta é um desafio, mas para muitos são alguns milhares de reais, dólares ou euros. O tema é delicado e difícil de ser enfrentado, e por isso tem gerado acaloradas discussões entre pacientes, seus familiares, fontes pagadoras e a comunidade médica.
No mês passado o semanário italiano L`espresso trouxe uma matéria intitulada O Preço da Vida que tratava justamente sobre custo de novos medicamentos e o aumento da sobrevida. São drogas recentemente aprovadas contra vários tipos de câncer, resultados de muitos anos de pesquisas e que tem como base a utilização da engenharia genética.
Sabemos que mais do que uma questão econômica esta é uma questão ética: quem decide o que e como pagar por um dia de vida, ou mesmo a esperança de um mês, dois meses ou um ano? A solução para esse questionamento ainda é uma incógnita e envolve os profissionais da saúde que se vêem obrigados a decidir o que é ou não viável adotar como tratamento e enfrentar grandes obstáculos nos controles impostos pelos convênios médicos.
Indo mais a fundo nesta questão começamos a nos deparar com significados difíceis de aceitar porque o "valor da vida" passa a ser apenas um valor estatístico, reflexo do desejo e da possibilidade de se pagar por reduções nos riscos de morte.
O tratamento do câncer evoluiu consideravelmente nos últimos dez anos, principalmente às custas desses novos medicamentos citados e hoje tem levado a cura doenças antes incuráveis, com índices de respostas surpreendentes, de até 80%. A oncologia clínica, por fazer uso desses medicamentos, que realmente tem elevado preço, tem ficado na linha de tiro da maioria dos convênios que vêem seu custo cada vez mais elevado e passaram a limitar a autonomia dos pacientes em escolher seu médico, interferindo cada vez mais também na autonomia do médico, usando sempre artifícios para dificultar quando não impossibilitar a correta indicação dessas novas terapias.
Uma das atitudes que vem sendo tomadas pelos convênios tem sido a organização de serviços próprios para atendimento dos pacientes que necessitam de tratamento oncológico, substituindo as clínicas especializadas pelos seus grandes e impessoais serviços próprios, com a justificativa da redução dos custos dessas terapias. Querem baixar os custos e com isso estão acabando com a livre escolha dos pacientes e direcionando-os aos seus próprios serviços o que fatalmente levará as clínicas de oncologia atuais a encerrar suas atividades.
O impasse está longe de chegar ao fim, de acordo com a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), organização multiprofissional líder mundial na oncologia e que representa profissionais do mundo todo, que criou recentemente uma força-tarefa, para estudar e encontrar soluções para o problema, A questão é difícil e real, devendo ser encarada com seriedade, responsabilidade e profissionalismo e envolver nas decisões os pacientes, os médicos, as fontes pagadoras e a indústria farmacêutica, pois a nenhum de nós é dado o direito da decisão de definir um preço pela vida.
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