O difícil retorno do dependente químico ao convívio social
O retorno do dependente químico, após um período de tratamento, sempre gera medo, expectativas e frustrações em todos os membros da família.Geralmente quando o dependente químico em recuperação volta para casa à família fica feliz, mas há uma desconfiança, uma dúvida, pois será difícil confiar em alguém que os feriu, que tanto mentiu, que traiu a confiança, que cometeu abusos, que muitas vezes roubou e cometeu outros atos ilícitos para conseguir a droga.Freqüentemente, este problema acaba gerando fortes sentimentos de culpa, raiva, frustração e medo em todos os membros da família.O dependente químico quando chega necessita de apoio e preparo psicológico da família, pois terá muitos obstáculos pela frente, como o preconceito que se constitui na sociedade. É nessa fase que um dependente químico necessita mais do amparo familiar, pois agora terá que começar do zero, sem contar nas grandes dificuldades que enfrentara para se inserir novamente na sociedade. Por isto é de fundamental importância que a família também faça acompanhamento terapêutico para que saiba lidar com o dependente químico e também para que possa retomar sua vida, deixando de viver em função deste dependente.PreconceitoO primeiro obstáculo que um dependente químico enfrentam é o preconceito constituído na sociedade. Por associar o uso de drogas com marginalização, grande parte da sociedade ainda vê um dependente químico como marginal, e com isso não acredita na sua recuperação, inibindo assim a chance que ele tenha novas oportunidades profissionais e sociais.Somente para ilustrar a ignorância e preconceito de nossa sociedade, no ranking dos grupos mais repudiados no País, de acordo com pesquisa de opinião publicada em fevereiro de 2009 pela Fundação Perseu Abramo, os usuários de drogas aparecem em segundo lugar no grau de aversão, perdendo apenas para os ateus. Entre as pessoas que o brasileiro menos gostaria de encontrar na rua, viciados em drogas aparecem em primeiro lugar, na opinião de 35% dos entrevistados. Em seguida, vêm os profissionais do sexo e os gays.O preconceito contra o dependente químico é acentuado pela escalada da violência relacionada ao tráfico, destacada pela mídia. Muitas pessoas acreditam que todo usuário de droga está ligado ao crime.Muitas vezes, o próprio usuário tem preconceito em relação a sua doença e este preconceito e a marginalização do usuário atrapalham seu tratamento. Muitos não se aceitam como dependente químico e relutam em buscar apoio. Quando finalmente o fazem, a situação pode já estar fora de controle.O dependente químico causa preconceito justamente porque a questão é cercada de valores e conceitos morais. Apesar disso, quase todas as famílias no Brasil têm algum dependente químico, seja de drogas ilícitas, álcool, cigarro ou drogas lícitas, os medicamentos – mesmo que ainda não tenham consciência do assunto ou apenas não querem ver que existe um problema.Ao invés vez de perceber o usuário de drogas como vítima, como alguém doente que necessita de ajuda, a sociedade, historicamente, encarou o consumo de drogas pelo viés da repressão e “demonizou” a pessoa que precisa de acolhimento: é como se o usuário fosse um “diabo” que tivesse de ser banido da sociedade.Dados de 2010 indicam que há 1,2 milhões de usuários ativos de drogas no Brasil – a população quase equivalente ao estado de Porto Alegre. Somente em 2011, contabiliza-se que SUS (através do CAPs) atendeu 250 mil usuários de drogas por mês no Brasil. Não temos estatísticas para o número de internados em clínicas particulares.
VergonhaUm dos obstáculos para o tratamento da dependência química é a vergonha dos familiares em aceitar que a droga é um problema naquele lar. Quando o dependente é encaminhado para o tratamento, os familiares sentem-se envergonhados perante os vizinhos ou perante a própria parentela e amigos.O preconceito da própria família do dependente agrava o problema, pois muitos têm vergonha de admitir que possuam um dependente químico em casa e por isso se afastam e todos estes fatores dificultam a recuperação.
Como é o processo de reinserçãoO processo de reinserção de um dependente químico na sociedade geralmente é bastante dificultado pela falta de envolvimento da família no tratamento, pela ignorância e preconceito da sociedade, pela fraca exposição do assunto na mídia.Durante nossa longa trajetória no trato com dependentes químicos temos visto muitos casos em que o paciente não quer retornar ao lar, prefere estar internado, pois não se sente “seguro” em voltar ao convívio familiar, tamanhas são as cobranças, as pressões, atitudes de desconfianças, falta de apoio, falta de assertividade – entre outras atitudes negativas. Entenda-se que apoiar não significa deixar de dar limites ou de orientar.A família deve estar preparada para receber o dependente químico em casa, seja através do tratamento via terapia familiar, seja via acompanhamento nos grupos de Naranon, Amor Exigente, Al-Anon e principalmente com sua mudança de postura.O dependente químico deve ter na família sua rede de apoio. Que ela seja seu porto seguro, responsável também por nortear e dar limites e ser a sinalizadora dos comportamentos de recaída na medida em que o dependente químico deixa de cumprir tudo aquilo que é sugerido.É necessário que a família tenha pleno conhecimento de como agir assertivamente com aquele que se encontra em processo de recuperação. Quando se fala em assertividade, estamos falando em se comunicar corretamente, em estar disponível para ajudá-lo na busca da recuperação, porem sem trazer para si (família), individual ou coletivamente, este fardo.Cabe também ao dependente químico fazer sua parte, assumir suas escolhas e responsabilizar-se pelos seus atos. Só assim estará em pleno processo de recuperação!Durante o seu tratamento o dependente químico deve ter sido estimulado a buscar sua capacidade de lutar em prol de si mesmo, como protagonista da sua história de vida, a procurar se comunicar de forma correta e a ser mais assertivo em todas as suas comunicações e atitudes.O dependente químico precisa adotar medidas de prevenção a recaídas que geralmente recebeu no seu período de internação e precisa continuar freqüentando os grupos de 12 passos e ajuda mútua. Ele também precisará uma mudança profunda na sua forma de pensar e agir.Em relação à sociedade é necessário que haja uma educação neste sentido, que deixe de estigmatizar a dependência química e comece a entendê-la como uma doença. Nossas autoridades e a mídia precisam estar mais alerta e mais envolvidas no assunto. As Drogas têm causado um “desastre social” devastador à nossa sociedade e suas famílias, especificamente à juventude e enquanto não houver iniciativas no sentido de alertar e tomar medidas necessárias, esta situação tende a se tornar cada vez pior.O uso de álcool, maconha e cocaína, entre outras drogas, são freqüentes no ambiente de trabalho, mas seu uso muitas vezes passa despercebido. E necessário também que haja mais programas de prevenção e combate ao uso de drogas nas empresas, já que hoje o tema tem se tornado um tabu. O problema é que queda na produtividade, absenteísmo e falta de motivação nem sempre são atrelados ao uso de drogas pelos funcionários. Por isto, é necessário que as empresas estejam mais informadas a respeito da dependência química e comecem a adotar medidas preventivas e corretivas.Enfim, faz-se necessário uma série de medidas conjuntas para que este mal diminua em nossa sociedade e alertas de este mal pode um dia “bater” a sua porta – o que você fará?
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