O Fenômeno da Dependência
Existe uma grande variedade de definições equivocadas que permeiam o assunto “drogas” e dificultam o entendimento da população, leiga, acarretando um agravamento dos preconceitos e dificultando a implantação de medidas preventivas.
O problema inicia-se na conceituação de droga e droga de abuso. Vários conceitos de droga podem ser encontrados na literatura. A Farmacopéia brasileira classifica droga como qualquer substância de origem mineral, vegetal ou animal. Este conceito é demasiadamente amplo não diferenciado a situação de uso e dependência. Outros conceitos também podem ser encontrados em livros básicos de farmacologia, dicionários e literatura especializada, como exemplificado abaixo:
* matéria prima de origem mineral, vegetal ou animal que contém um ou mais fármacos
* toda substância que introduzida no organismo vivo, pode modificar uma ou mais de suas funções
* é qualquer substância química ou mistura de substâncias, distintas das necessárias em condições normais para a conservação da saúde, cuja administração modifica as funções biológicas e a estrutura do organismo
* pode ser usada para tratar ou aliviar enfermidades ou com propósitos não terapêuticos (uso indevido)
* são “substâncias psicoativas” que modificam o estado de ânimo, o entendimento e o comportamento
* originam fenômenos de tolerância, comportamento de busca, neuroadaptação e generalização da resposta
* são substâncias que induzem a auto-administração, tem a propriedade de causar intensos efeitos de reforço e provocam efeitos prejudiciais à saúde ou à função social
De acordo com a OMS, droga de abuso é uma substância que age nos mecanismos de gratificação do cérebro, provocando efeitos estimulantes, euforizantes e/ou tranqüilizantes.
Com tamanha abrangência conceitual, torna-se necessário relacionar também alguns termos como farmacodependência, potencial de abuso, reforço, síndrome de abstinência e tolerância, os quais tem sido reavaliados a cada nova descoberta, ou seja, com a evolução dos conhecimentos e com o progresso da tecnologia de pesquisa.
Quando se pensa no fenômeno de dependência de drogas, deve-se considerar que a exposição dos indivíduos é constante e a longo prazo. As doses variam de acordo com o usuário que procura obter um efeito agudo da substância, relacionado ao seu bem-estar. Em função desse efeito desejado, é que o usuário de droga elege uma determinada substância e uma via de introdução adequada para o tempo de manifestação do efeito. Isso significa que, quanto maior é a necessidade, maior também a urgência de uso da droga, ou seja, quanto maior a compulsão, a via de administração escolhida será aquela de maior velocidade de distribuição pelo organismo. Deve-se considerar ainda que dependendo da via de introdução, a droga poderá ser administrada em maior concentração, aumentando a intensidade do efeito e reforçando a compulsão.
Como a variação destes fatores interfere na avaliação sobre a dependência, adota-se os critérios estabelecidos para diagnóstico, principalmente o critério do dsm-iv (diagnostic and statistical manual of mental disorders – sistema oficial de diagnóstico da associação americana de psiquiatria) e Cid-10 (código internacional de doenças) para uso nocivo de substâncias. Seus conteúdos possuem poucas diferenças.
Em 1981, a OMS publica um memorandum de experts adotando um modelo para determinação da dependência no qual procura inserir todas as variáveis que influenciam o uso problemático de drogas (edwards, 1981). Este modelo foi adaptado por stolerman (1992) para o “comportamento de busca da droga”. Desta forma, evidencia-se o caráter biopsicosocial deste fenômeno.
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