terça-feira, 28 de maio de 2013

Mulheres estão bebendo mais



O Diário de Mogi
As mulheres estão bebendo mais e com mais frequência. Nos últimos seis anos, a proporção das que consomem álcool de forma excessiva aumentou 24%, passando de 14,9% para 18,5% das brasileiras. É o que revela o segundo levantamento nacional de álcool, divulgado em abril pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Foram entrevistadas 4.607 pessoas com 14 anos ou mais em 149 municípios brasileiros. Desse total, 1.157 eram adolescentes.

Segundo Ronaldo Laranjeira, professor titular de psiquiatria da Unifesp e coordenador do levantamento, o aumento do consumo de álcool por mulheres reflete a maior frequência do ato de beber socialmente, e não em casa. "Mulheres que socializam como homens estão bebendo tanto quanto eles."

Esse consumo excessivo de álcool é o que os especialistas chamam de "binge", isto é, a ingestão de quatro unidades ou mais de bebida, para mulheres, e cinco unidades ou mais, para homens, em um período curto de tempo (duas horas).

Na pesquisa, uma unidade de álcool equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de vodca. Entre 2006 e 2012, houve um aumento de 31% nessa forma de consumo entre os brasileiros que bebem.

Dentro desse universo, aumentou de 51% para 66% a parcela dos homens com consumo excessivo. Entre as mulheres que bebem, esse padrão de consumo cresceu de 36% para 49%. No mesmo período, entre as mulheres que bebem, o índice de consumo frequente cresceu 34,5%, passando de 29% (2006) para 39% (2012).

Os dados mostram que, no geral, houve um aumento de 20% na proporção de bebedores frequentes (uma vez por semana ou mais).

Encher a lata

Segundo Laranjeira, o brasileiro tem um comportamento diferente em relação à bebida do observado em outras partes do mundo. "Na Europa e nos EUA, temos uma taxa baixa de abstêmios e uma taxa alta de bebedores moderados. Aqui, há muitos abstêmios e, comparando com o levantamento de 2006, quem já bebia passou a beber mais e com maior frequência", disse o psiquiatra.

O levantamento mostra que quase um em cinco bebedores frequentes consome álcool de forma abusiva e tem um comportamento compatível com dependência.

Os dados também mostram que 32% dos adultos que bebem afirmaram já não terem sido capazes de conseguir parar de beber em alguma ocasião; 10% disseram que alguém já se machucou em consequência do seu consumo de álcool; 8% admitem que o uso de álcool já teve um efeito prejudicial no seu trabalho e 9% relataram que houve o prejuízo à família ou ao relacionamento.

Para Laranjeira, o aumento no consumo excessivo de álcool pela população brasileira reflete o aumento da renda nos últimos anos, principalmente entre as classes mais baixas. Enquanto na classe A o consumo "binge" se manteve o mesmo, nas classes C, D e E, houve, respectivamente, um aumento de 43%, 43% e 48% nesse tipo de consumo.

Os efeitos da "Lei Seca" também já podem ser percebidos: houve diminuição de 21% na proporção de pessoas que relatam terem dirigido após o consumo de álcool no último ano.

Segundo Ilana Pinsky, professor da da Unifesp que também participou do levantamento, entre as medidas que podem ajudar a reduzir o consumo estão o aumento de preços das bebidas e a restrição dos locais de venda e da publicidade. O professor da Unifesp vê omissão do Ministério da Saúde em relação ao problema do álcool. "Não há políticas públicas nem de tratamento nem de prevenção".

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