quarta-feira, 1 de maio de 2013


Conheçam Esmeralda Ortiz


                        “Agora não tenho mais problemas, tenho dificuldades”



Hoje com 31 anos, Esmeralda Ortiz, uma ex menina de rua conta sua história com um sorriso no rosto e orgulhosa de ser um exemplo, “Não tenho mais problemas, tenho dificuldades”. Desde bem pequena Esmeralda viveu na rua, saiu de casa com apenas 8 anos e foi viver na Praça da Sé, na região central da cidade de São Paulo, por onde ficou até seus 19 anos. Viveu 12 anos de sua vida em condições precárias e sob efeito de drogas, principalmente o crack e optou por sair de casa pois não conseguia mais viver com sua mãe, que era alcoólatra e que batia diariamente nos filhos, sem contar seu padrasto que molestava ela e as irmãs. Então ao sair de casa foi morar nas ruas do centro da cidade, principalmente da Praça da Sé, onde gostava de nadar no chafariz e brincar. Conforme o tempo foi passando Esmeralda começou a roubar, traficar e se drogar, o que somou mais de 50 prisões na Febem. Tentava parar de fumar crack e se tratar nas instituições que ajudavam crianças de rua, mas a tentação era maior e o vício a deixava completamente vulnerável, até que crescida, conseguiu ajudar a si mesma e com 19 anos largou as drogas e a rua.





Esmeralda com 20 anos


Toda a sua história está no livro “Esmeralda. Por Que não Dancei?”, uma autobiografia que Esmeralda escreveu aos 22 anos, como uma forma de mostrar sua história ao público, denunciar o problema nas ruas e superar as barreiras que teve no passado, começando uma nova vida. O projeto foi coordenado por Gilberto Dimenstein, que realizou o sonho de Esmeralda de ser uma jornalista. Depois, trabalhou um tempo como doméstica, mas sabia que não queria isso para viver, então conseguiu uma bolsa e mais tarde fez a faculdade Anhembi Morumbi de jornalismo e se formou, pois sempre acreditou no poder da comunicação. Além deste livro, Esmeralda já escreveu outro sobre sua vida na rua, chamado “Diário de Rua”, mas contou na visita que fez à Escola Nossa Senhora das Graças que gostaria de escrever outras coisas, como contos infantis, mas que a sua editora pressiona ela a escrever sobre sua vida difícil na infância e adolescência.
No encontro que tivemos com Esmeralda na ENSG, ela disse baixinho “Nossa tem muita gente aqui hoje, estou nervosa.”, apesar de já fazer palestras a 10 anos no lugar. Ela estava nervosa, mas se soltou logo quando começou a conversar com a gente. Abriu sua palestra com o poema “Balada Para não Dormir” de Lourenço Diaféria, que fala sobre a diferença de uma criança e um menor morador de rua, um contraste que Esmeralda presenciou em uma grande parte da sua vida. Durante a palestra, ela ficou a vontade, contou sobre sua infância e adolescência, mas falou principalmente de sua vida atual, suas conquistas, seus planos e dos perigos da sociedade que ainda está sujeita “Não tô imune à uma recaída” explicou ela, após contar dos shows que apresenta de vez em quando em alguns bares ou restaurantes, lugares que muitas vezes apresentam as drogas, de bebidas até o próprio crack que quase destruiu sua vida. Ela disse que quando não está bem para ficar em ambientes como estes, não fica, pois tem consciência de que se ceder à sua vontade, pode virar seu mundo de ponta cabeça, e hoje com um filho de 4 anos, sabe que suas responsabilidades são maiores do que qualquer coisa. “A droga é incurável, tem que ir se cuidando para sempre, mas hoje, penso muito antes de fazer qualquer coisa comigo, porque tem muita gente que se espelha em mim, gente que eu nem conheço”, afirmou Esmeralda.
Abandonar sua casa e sua família com 8 anos foi uma consequência de toda a violência doméstica que sofreu, desde bem pequena se lembra da mãe que batia nela e dos homens que frequentavam seu barraco, ela e as irmãs eram abusadas pelos padrastos e pelo tio e quando não era por isso, apanhavam da mãe que vivia bêbada e largada. O álcool estragou sua vida, assim como a dos irmãos, um fugiu muito cedo para a rua, uma morreu e outra continuou em casa, sua avó, seus tios, tias e sua mãe bebiam, então Esmeralda não tinha como fugir do álcool e de todas as consequências que ele trazia. Toda essa vida de abandono que teve, foi causa de uma desestruturação familiar na infância, falta de escolaridade e educação, mas hoje Esmeralda procura dar o que consegue para o filho e cuidar dele do jeito que uma criança merece.
Na palestra, Esmeralda apresentou vídeos e documentários de crianças na Febem, contou como eram as condições lá e comparou o lugar com um campo de concentração. Ela disse que havia crianças de 5 ou 6 anos que se matavam de tão maltratadas que eram. Nos vídeos também tinha uma reportagem que mostrava a presença do crack e o seu poder de destruição, segundo um médico que trabalha com dependentes, essa droga vicia fumada menos de quatro vezes e hoje em dia está presente até nas classes mais altas. Ela contou que viu muitos amigos morrerem por causa disso e que o passo mais difícil que teve que dar foi esse, o de abrir mão dos amigos para ir se cuidar. Com 19 anos, Esmeralda deixou o Projeto Travessia que é uma fundação que desenvolve programas para meninos de rua e foi encaminhada para a Casa de Passagem, um conjunto de casas para jovens de rua, lá frequentam a escola e têm ajuda de profissionais, foi onde conheceu seu psicólogo, o qual frequenta até hoje e o que teve grande importância na sua recuperação. Com a ajuda das instituições e seguindo pessoas que tinham superado, Esmeralda foi deixando sua vida na rua para poder lidar com os próprios sentimentos, “Eu continuei acreditando em mim, eu antigamente perdi para uma pipoca, para uma pipoca vocês acreditam?” disse ela comparando o tamanho crack com o de uma pipoca.
Hoje Esmeralda encontra felicidade com o seu filho, com sua profissão e com a música. Sempre gostou de cantar e escrever. Desde pequena, Esmeralda compunha músicas e sonhava em ser cantora de pagode, pois como conta no livro, ela se inspirava em bandas de pagode da época e se sentia realizada ao cantar, “Cada vez que eu cantava ou escrevia era como se eu entrasse em contato com Deus” disse ela, que as vezes se apresenta com seu amigo Marquinhos, em bares e restaurantes. Esmeralda levou Marquinhos na palestra da ENSG e no final, os dois tocaram uma composição dela. Todo mundo cantou e bateu palmas junto, com uma voz bonita e um sorriso enorme, Esmeralda cativou a platéia. Um exemplo de superação para todos e para si mesma, “Eu sou o milagre em pessoa, dá licença!” disse ela rindo.


“Preciosa Esmeralda”
A história de Esmeralda é muito semelhante ao filme lançado recentemente, “Preciosa Uma História de Esperança” ganhador de cinco categorias do Oscar de 2010. O filme conta a história de Preciosa, uma adolescente de 16 anos que tem inúmeros problemas familiares e psicológicos, é violentada pelo pai, sofre abusos da mãe, não sabe ler nem escrever, não tem dinheiro, é obesa e ficou grávida duas vezes. Esmeralda e Preciosa, assim como outros jovens ao redor do mundo nunca tiveram amor da família e também cresceram em ambientes totalmente inadequados para uma boa infância e adolescência. A realidade de uma vida sofrida e de um abandono está muito bem representada no filme “Preciosa”, assim como no livro “Esmeralda Por Que Não Dancei”.

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