“O Pior cego é o que está convicto e seguro de que vê.
Não há nada mais fácil do que apontar os erros, preconceitos e fanatismo dos outros enquanto permanecemos cegos e insensíveis aos nossos próprios.”
Eduardo Gianetti
Depois de algum tempo frequentando algumas irmandade de 12 passos - aqui em SP tem algumas irmandades de 12 passos :
Nar-Anon,
NA,
AA,
Al-Anon,
CODA,
DASA,
MADA,
EA,
N/A,
FA,
CCA,
DA, enfim existe um infinidade.
Então, depois de um tempo de assiduidade nas reuniões, comecei a perceber em mim um certo desconforto, em relação à partilha dos recém-chegados, via muita auto-piedade, lamentações e discursos do tipo : "o problema é dele, o doente é ele!", nas partilhas e isso me incomodava muito.
Eu já sabia que, quando um defeito no outro nos aborrece demais, é bem provável que este defeito exista em nós também, pedi ajuda a um companheiro mais experiente no programa e nas ferramentas de recuperação.
Na época ele me falou muito sobre o auto-engano, sobre como chegamos à Irmandade, cheios de auto-engano e auto-piedade.
Quando chegamos, no grupo, estamos cheios de mágoas, dor, ressentimento, medo, e raiva, extremamente frágeis, e desesperados por uma solução mágica. Chegamos tão machucados que, admitir que o responsável por todas aquelas feridas fossemos nós mesmos, é um choque de realidade tão grande que talvez nossas mentes não suportariam.
Por isso, muitas vezes parecemos manipuladores, mentirosos, desonestos, depressivos e auto-piedosos. Esse companheiro me fez ver o quanto eu mesma me enganava quando cheguei - e olha que eu me enganei durante um ano, ele me fez perceber que os erros, as justificativas e as manipulações muitas vezes partiam de mim e não das outras pessoas, era uma armadura que eu criava para me proteger de mim mesma.
Eu havia me tornado uma mártir, e no fundo eu gostava disso, gostava do fato de poder justificar que minha vida estava uma M#$%, porque o outro não estava fazendo "sua parte", eu gostava de manipular os outros fazendo minha melhor cara de coitadinha, eu realmente gostava de "choramingar pelos cantos minhas mazelas", eu me "enaltecia" em comentários do tipo: "Deve ser difícil passar por isso!", "Você é uma guerreira, eu já teria desistido!", "Você não merece isso!", "Coitadinha...!", "Fulano devia te dar mais valor". Era como um amor bandido, daqueles que a gente encontra na calada da noite.
"O Auto-Engano é a armadura de quem se acha perfeito!"
Mas o Auto-Engano cobra um preço muito caro pelos serviços prestados, colocar a culpa de suas mazelas nos outros, não resolve seus problemas, nem ameniza seus defeitos, o auto-engano pode até "maquiar", "esconder", "distorcer" nossos defeitos, mas não os resolve, e não resolvendo se torna um vício, essa capa grossa que envolve o problema só o faz fermentar, crescer ao ponto de fazer com que nossos defeitos de caracter se multipliquem, se procriem dentro de nós , gerando outros novos defeitos de caracter!
Um dos sintomas do Auto-Engano é exatamente esse: achar que só o outro tem defeitos, de se sentir péssimo e colocar no outro a responsabilidade por esse sentimento, é achar que só os outros falham com você, que ninguém te entende, que você é um pobre coitado vivendo a mercê das escolhas alheias, é pensar que a vida é injusta contigo, que os defeitos do outro são sempre piores que os seus, ou que seus problemas são sempre os mais difíceis, que você é o único que se esforça para que algo tenha sucesso!
"A vida só é penosa pra galinha, que boto ovo todo dia!"
Abrir mão do auto-engano não é tarefa fácil, e nem acontece feito milagre quando você descobre que pratica este "esporte", o auto-engano só começa a desaparecer quando:
1º. Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que nossas vidas tinham se tornado incontroláveis.
2º. Viemos a acreditar que um Poder maior do que nós poderia devolver-nos à sanidade.
3º. Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus, da maneira como nós o compreendíamos.
4º. Fizemos um profundo e destemido inventário moral de nós mesmos.
5º. Admitimos a Deus, a nós mesmos e a outro ser humano a natureza exata das nossas falhas.
6º. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
7º. Humildemente pedimos a Ele que removesse nossos defeitos.
8º. Fizemos uma lista de todas as pessoas que tínhamos prejudicado, e dispusemo-nos a fazer reparações a todas elas.
9º. Fizemos reparações diretas a tais pessoas, sempre que possível, exceto quando faze-lo pudesse prejudica-las ou a outras.
10º. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.
11º. Procuramos, através de prece e meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, da maneira como nós O compreendíamos, rogando apenas o conhecimento da Sua vontade em relação a nós, e o poder de realizar essa vontade.
12º. Tendo experimentado um despertar espiritual, como resultado destes passos, procuramos levar esta mensagem a outros adictos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.
Cair no auto-engano, é fácil, o auto-engano é aquela armadura reluzente, aquela primeira armadura que nos vem às mãos quando nos sentimos ameaçados pelas circunstâncias negativas que a vida nos apresenta, mas não se engane, não se "auto-engane"!(*rs)
Essa armadura reluz não porque seja de aço, reluz porque é feita de papel alumínio...BRILHA... mas só serve pra cozinhar mais rápido as coisas!
Sair do auto-engano é difícil? Não, nem difícil, nem impossível. Como eu vivo falando, a recuperação tem que ser gooosssstooosssaaaa, e não ser mais um "fardo" na sua vida, afinal a gente só muda quando a dor de permanecer igual for maior que a dor de mudar... (*a dor de mudar tem que ser menor!!!! entendeu??? mudar não deve ser mais difícil do que permanecer assim, do jeitinho que você está hoje!!! A não ser que você seja masoquista!!!)
Tudo é uma questão de perspectiva, se por um lado mudar e abrir mão dos defeitos de caracter tende a ser um exercício diário e muitas vezes trabalhoso de realizar, por outro, mudar, se conhecer e redescobrir é uma jornada emocionante de descoberta e de transformação interior.
No começo eu brigava muito comigo mesma para conseguir admitir meus próprios erros, minhas próprias falhas, muitas vezes eu não conseguia perceber a real causa dos meus problemas, era como se o mundo estava me castigando por um crime que eu não havia cometido, vivia me perguntando o que "havia feito para merecer tal castigo"! (* que coitadinha eu né? rs)
Era difícil admitir que o outro não atendia às minhas expectativas porque simplesmente não era a obrigação dele!Era difícil aceitar que eu só tinha a escolha de modificar a mim mesma, que o outro só mudaria se isso fosse realmente seu desejo e não porque eu simplesmente não o aceitava daquela forma. Era difícil admitir que a responsável pela minha infelicidade, descontentamento, fracasso e desilusão era -*pasmem,rs- EU MESMA!.
Mas foi interessante começar a perceber que o mundo não rodava em torno desse umbiguinho aqui, e que eu tinha a opção de viver ou não em torno do umbigo de alguém, foi impressionante entender que nos momentos que o outro me magoou, fui eu que me permitir magoar-me, e que nos momentos em que o outro se magoou foi porque se permitiu magoar-se, que minhas atitudes erradas prejudicavam mais a mim do que ao outro. Aprendi que pedir desculpas não é o mesmo que ser perdoado e nem que para perdoar é necessário um pedido de desculpas.
Foi fascinante perceber que cada vitória era mérito meu, que cada dia são, feliz, leve, e gostoso aconteciam porque eu me permitia viver isso. Aprendi que opções sempre irão surgir, mas que o poder da escolha é meu, assim como a responsabilidade pelas consequências!
A liberdade acontece no momento em que
conseguimos ser responsáveis apenas por nós mesmos
!