domingo, 2 de junho de 2013

Relato de um dependente químico.



Meu nome é ....., escritor, cineasta e um adicto em recuperação.
Em 2007 depois de lançar um romance contra as drogas (Ecstasy: A Escolha é Sua) eu simplesmente fui lançado no mundo das drogas. Eu sabia tudo a respeito das conseqüências, mas não hesitei em usar.
Não estava deprimido e nem com dificuldade alguma na vida.
Eu recebia 9 mil por mês e dirigia um carro de mais de 100 mil reais, com apenas 24 anos. Estou tocando em valores para todos saberem aonde eu cheguei.
Estava em ascensão no cinema e tenho uma grande produção para 2010. Minha carreira como escritor também ia bem. Não dá para dizer que pode ganhar muito com literatura no país, mas em 2010 irei lançar outro livro.
Na época eu morava com minha avó. Não gastava em nada além de roupas caras, viagens e baladas. Chegava ao ponto de torrar cerca de 800 reais por noite.
Então comecei a me viciar nas chamadas “termas”. Em uma delas conheci uma garota que me ofereceu logo o Ecstasy. Bêbado, eu fiz uso.
Gostei tanto que comecei a ir até a favela buscar mais. Os traficantes me davam o troco em cocaína (e eu não podia reclamar).
Certo dia minha namorada pediu para irmos ao motel e para eu levar a cocaína. Nunca havia experimentado. Foi então que comecei a ser um adicto.
Chegava a gastar mil reais em cocaína, consumia cinco Ecstasys por dia, bebia duas garrafas de Jack Daniel’s, o que me deixava três dias acordado.
Depois tomava Haldol e dormia por mais dois dias.
Eu era bem forte (100 quilos) e em pouco tenho estava com 70. Tinha juntado dinheiro e ele simplesmente acabou. Comecei então a utilizar o cartão da minha avó. Em um mês eu gastei cerca de 40 mil reais, com droga, bebida, balada e prostituta.
Tive um relacionamento com uma atriz .... e comecei a dormir (como amigo) na casa de um dos maiores jogadores de futebol...., foi quando minha falsa “auto-estima” disparou.
Em pouco tempo eu já não tinha mais dinheiro, carro e nem dignidade. Parei de escrever já que ou estava me drogando ou estava dormindo. Minha única sorte é que eu já tinha vários trabalhos prontos, tendo em vista que eu escrevia muito.
Porém meus amigos começaram a não me aceitar. Cheguei ao ponto de recusar uma ótima proposta de emprego, que me custaria o dia inteiro trabalhando.
Tive um princípio de infarto dentro de um motel e minha avó teve que ir ao meu socorro.
Vendo minha situação periclitante internaram-me em uma clínica. Não deu resultado algum. Depois me internaram de novo. Sem resultado de novo.
Cortaram meu dinheiro e bloquearam a minha conta bancária. Queriam até mesmo entrar com uma ação de interdição junto ao Ministério Público.
Ninguém via salvação em mim. Todos já haviam perdido a esperança.
Cheguei a vender um pertence de 800 reais por apenas 50, tamanho era meu desespero.
Consultei-me com os melhores psiquiatras e psicólogos e todos não queriam cuidar do meu caso..
Furtei cheques dos meus parentes e dinheiro.
Eles não conseguiam me internar de novo, já que perceberam que não faria efeito.
Então minha mãe teve a idéia de me levar aos Narcóticos Anônimos. Foi quando minha vida começou a mudar. Não parei de usar do dia para noite, mas vendo situações semelhantes ou piores que a minha, comecei realmente a refletir que estava destruindo minha vida.
Mas foi Deus que me fez largar o vício. No começo foi muito difícil. Eu tinha uma abstinência psicológica terrível. Não sabia como viveria com o fato de ter perdido tudo e ainda por cima ser considerado uma ameaça a todos.
Quando penso em voltar a usar (por causa de algum problema) eu respiro fundo, vou tomar um banho e escrever.
A dependência química é uma doença. Em minha opinião clínica é um mercado e não apresenta um bom resultado (procurem dados na Internet e verão que não estou dizendo besteira).
Mas no meu caso a clínica salvou minha vida. Ou me amarravam na cama ou na clínica. Clínica serve para desintoxicação, porém há muito trabalho a ser feito fora dos muros.. Temos que encarar traficantes nos aliciando (já que somos consumidores), com a desconfiança de todos e com a tentação da recaída.
Acho que não devemos nos manter limpo para os outros ou esperando algo em troca. Devemos ficar longe das drogas porque é conosco que ela está jogando. A recuperação deve ter o apoio da família, todavia na minha situação não encontro apoio. Mas não é motivo para eu dizer: minha vida está uma merda e usando ou não droga vai ficar na mesma. Então vou usar.
De fato, para o que era antes, minha vida está uma merda.
Estou sempre pedindo a Deus para me ajudar. Não tinha religião nem tenho a intenção de converter ninguém. Mas a Igreja nos dá novos e verdadeiros amigos. Abre um mundo ainda desconhecido. De que podemos ser felizes longe das drogas. Eu nunca acreditei, depois de tudo, que poderia. E aqui estou. Se eu consegui, por qual razão você não consegue?
Está desesperado de abstinência? Converse com sua família ou com algum amigo! Procure um médico para receitar algo para acalmar seu coração.
A recaída faz parte, mas a pergunta é: você quer recair? Quer começar tudo de novo apenas por uma noite ou um dia de falsa diversão?
Não faltaram inimigos disfarçados de amigos. A tentação existe para fazê-lo forte. Para reafirmar seu propósito.
Eu sei que muitos não entendem a sua dor e a sua luta. Talvez esteja sem aliados ou esperança
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