sábado, 1 de junho de 2013


A molécula do prazer não é mais aquela?


Estudo questiona papel da dopamina na mediação da sensação de bem-estar provocada pela morfina.
Até hoje, acreditava-se que a sensação de prazer causada por opióides como a morfina e a heroína era mediada por uma substância produzida no nosso cérebro para comunicação celular: a dopamina. No entanto, um estudo norte-americano mostra que pode não ser bem assim. Experimentos com camundongos deficientes na produção desse neurotransmissor sugerem que ele não está envolvido na indução do prazer associado ao consumo da droga.
O estudo, publicado na edição de 8 de dezembro da revista inglesa Nature , foi feito por pesquisadores do Instituto Médico Howard Hughes e da Universidade de Washington, ambos nos Estados Unidos. Os cientistas conceberam um experimento para testar se a dependência provocada pela morfina era subordinada à dopamina.







Embora deficientes na produção de dopamina, camundongos usados no experimento continuaram freqüentando o compartimento em que havia morfina (foto: Thomas S. Hnasko)


Camundongos normais e que não produziam esse neurotransmissor foram submetidos a um teste dividido em três fases. Na primeira, os animais passeavam livremente por uma câmara com dois compartimentos distintos. Então, eles eram confinados em um desses locais, onde recebiam uma injeção de soro fisiológico ou morfina, dependendo do compartimento em que se encontravam. Na última fase, os roedores foram novamente autorizados a andar livremente pela câmara.

“Se os camundongos tivessem desenvolvido dependência por morfina, eles passariam mais tempo no compartimento de morfina na terceira fase do que na primeira”, explica o doutorando Thomas S. Hnasko, um dos autores do artigo, em entrevista à CH On-line . No entanto, os camundongos deficientes na produção de dopamina iam mais vezes ao compartimento com a droga.

Esses resultados são incompatíveis com a teoria segundo a qual a dopamina seria a responsável por mediar a sensação de prazer provocada pelos opióides. Essas drogas ‘imitam’ compostos do nosso organismo – as endorfinas – e se ligam a proteínas na superfície das células nervosas, ativando a liberação da dopamina, que induziria o prazer e alívio da dor, de acordo com a explicação atualmente aceita.

A equipe de pesquisadores já tem um possível candidato a substituto da dopamina na mediação do efeito dos opióides. Hnasko conta que, baseado em outros resultados obtidos no laboratório, é possível que um outro neurotransmissor – a norepinefrina – desempenhe essa função. Os cientistas estão ampliando a pesquisa e agora pretendem testar a cocaína para saber se os resultados se repetem com outras drogas.

Embora o estudo indique que a dopamina não está envolvida no mecanismo de indução de prazer, Hnasko acredita que esse neurotransmissor ainda seja um bom alvo para pesquisa de medicamentos contra a dependência de drogas. “A dopamina pode desempenhar um papel na mediação do desejo pela droga”, afirma. “Como eliminar essa sensação é provavelmente o objetivo da maioria dos tratamentos, a importância dessa substância permanece.”

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