segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Tres anos sem droga... renascendo...racionalizando ...sentindo.


Estou a 3 anos sem o uso de drogas, como está sendo ficar limpo esse tempo... Devo dizer que foi um turbilhão de sentimentos, de muitos questionamentos, de aprendizado, entendimento. Aceitar a vida sem anestesia, voltar pra esse mundo real.
Ficar sem droga a essas alturas é o de menos, a vontade ainda existe, mas fica em segundo plano. O mais complicado foi e ainda é mudar todos os hábitos adquiridos ao longo de tantos anos. Entender dentro de mim, o que é razão, o que é emoção. O que eu sempre pensei...o quanto sou eu de verdade e o que é resquício das drogas, ter compreensão, humildade para aceitar que muitos dos meus pontos de vista estavam errados.Não mudei em muitas atitudes externas, trabalho, disciplina, ainda não vi grandes mudanças, mas internamente, muita coisa mudou...Consegui nesses 3 anos limpo, me respeitar, sempre fui introspectivo, penso, penso, racionalizo, peso, sinto, se houver um sentido emocional, faço, se não tiver, não faço, simples assim. Não me prendo mais, já que o meu conceito de liberdade era totalmente errado, pois era escravo das drogas e agora não sou mais, me dou ao direito de ir e vir, pela minha razão sim, mas sem deixar jamais de lado o meu sentimento, eu sou a pessoa mais importante, pra mim mesmo. Se eu não estiver inteiro, ninguém que amo estará (não no meu ponto de vista).É a vida tomou outro foco, outro rumo, quero mais de mim, quero mais dos que me ajudam, mas quero só o suficiente, não faço sobre hipótese alguma, o que não me faz sentir bem comigo mesmo.
Aprendi a abrir mão do “controle” se o meu foco, o meu jeito de fazer ou pensar está em desacordo com o que quer o, então não ajo, não faço do meu modo, deixo nas mãos de Deus, pode parecer algo de religião isso, mas não, é aprender a entregar algo da minha vida, nas mãos de Deus, isso me deu uma paz interior enorme, isso se chama fé.Estou me encontrando!!... Vocês não tem noção do quanto quis, desejei, implorei por isso.Ser apenas eu, sentir de verdade, ser humano, viver esse momento, sem estar perturbado. Momento paz de espírito. Amém!

COM NARCOTICOS ANONIMOS CHEGUEI LA!


É POSSÍVEL RECUPERAR-SE DO USO DE DROGAS SEM INTERNAÇÃO?


É comum ouvir entre as pessoas, que um dependente químico, para se recuperar do vício e levar uma vida normal, tem que ser afastado da sociedade e ser submetido a um tratamento com alguns meses de duração, em um lugar isolado e longe de qualquer possibilidade de uso de drogas. Algumas pessoas acreditam que com alguns meses sem uso de drogas, depois de o organismo desintoxicar, a pessoa conseguirá parar de usar drogas definitivamente e se voltar a usar drogas, é por falta de caráter, vontade ou algo do tipo.
Se a dependência química fosse uma doença física, este argumento poderia ser verdadeiro, porém, sabemos que a dependência química é uma doença espiritual, com graves conseqüências físicas é verdade, mas sua origem e desenvolvimento se dão na alma, nos sentimentos e no entendimento.
Quando fui internado pela primeira vez, após o terceiro mês de isolamento em uma fazenda para recuperação de dependentes químicos, tive a sensação de que nunca mais iria voltar a usar drogas. Desintoxicado, bem alimentado e praticando esportes, estava fisicamente recuperado.
Após 130 dias de internação, recebi alta, era jovem e meu maior desejo era voltar a estudar, trabalhar para construir um futuro digno. Porém depois de dois meses após a saída da internação, lá estava eu novamente no vício, com mais voracidade que antes e muito mais auto-destrutivo.
O que houve? Quando usei drogas pela primeira vez, não imaginava onde as drogas iriam me levar, não pensei que iria chegar ao fundo do poço, quase destruir minha vida e minha família, pensava que iria conseguir controlar, sem dúvida, na primeira vez me iludi, me auto- enganei, achando que não me viciaria. Achava que pararia de usar quando quisesse. Enganei-me!
Porém, quando recaí, após cinco meses internado e mais dois meses na rua, freqüentando um grupo de recuperação sem usar drogas, não havia desculpas, já sabia do poder destrutivo das drogas e que não podia controlar o uso uma vez que o iniciava, e alem do mais, meu organismo estava limpo e recuperado, eram sete meses sem uso de drogas. Para completar eu tinha sonhos, queria estudar, trabalhar, conhecer uma garota decente, casar, ter filhos e ainda, eu tinha todo apoio da minha família. E eu não era uma pessoa sem caráter, aliás, nunca fui!
Então, porque recaí?
A dependência química é uma doença comportamental, sendo assim, só é detida com a mudança do comportamento autodestrutivo, está mudança não é fácil de ser realizada, pois este comportamento é um traço marcante do indivíduo, que na maioria dos casos o acompanha há anos. No meu caso, os sentimentos de inferioridade, orgulho, baixa auto-estima e eterna insatisfação, ditavam meu comportamento.
Como mudar?
O primeiro passo para a mudança é a admissão que é necessário mudar! Admitir que algo está errado!
Se uma pessoa, não admite que tem um problema, ela nunca irá conseguir se libertar deste problema. Por isso, a recuperação não depende da igreja, da família, do pastor, da clínica de recuperação. A sua recuperação depende de você!
Uma vez admitido o problema (e isso já é um grande passo), o dependente químico está pronto para começar a se recuperar.
É importante lembrar que ninguém muda de um dia para o outro, porém o dependente químico não tem muito tempo, pois se o uso de drogas não for detido, o dependente poderá perder a vida a qualquer momento. Não é necessário lembrar que a conseqüência final do uso de drogas é a morte!
A princípio o recuperando deverá evitar lugares e pessoas que estão relacionadas ao seu uso de drogas.
Quem quer se recuperar não pode freqüentar bares, pontos de venda de drogas, baladas e similares. É importante saber, álcool é droga! Uma latinha de cerveja não mata ninguém, mas uma simples latinha de cerveja faz com que um dependente químico, acabe voltando ao uso de drogas!
Quem quer se recuperar, não pode andar com quem usa drogas, em hipótese alguma! Se você voltar a andar com usuários de drogas, você voltará ao uso!
Quem quer se recuperar tem que preencher seu tempo com atividades que o remeta à recuperação.
Nos primeiros meses, a obsessão (pensamento fixo no uso de drogas) e a compulsão (uso descontrolado de drogas) são o grande desafio do recuperando. Por isso é importante que o recuperando esteja todos os dias envolvido com a recuperação, em grupos de recuperação, igrejas etc.
É importante buscar amigos dentro de ambientes saudáveis, como por exemplo, nos citados no parágrafo anterior. No começo é difícil, pois o uso de drogas por um tempo prolongado nos torna diferente das outras pessoas, sentimos e reagimos diferente, mesmo sabendo que para Deus somos iguais. Esforce-se para fazer amigos que agregarão coisas boas a você, isso é fundamental para sua recuperação!
Os princípios contidos na bíblia são uma ferramenta poderosa, capaz de mudar o comportamento e o caráter do indivíduo. Se seguirmos este caminho seremos transformados e vivenciaremos o milagre, que é ficarmos uma hora sem usar drogas, esta hora se multiplicará e logo, será um dia, um mês, um ano, uma nova vida! Este é o milagre: Uma nova vida, sem drogas.
A internação ajuda, porém, nem todos tem acesso, além disso, o ambiente mais apropriado para a recuperação é o ambiente onde o recuperando vai ter que viver. Não adiante ficar meses internado, se adaptando a uma realidade que não é a sua, pois quando você voltar para sua realidade irá ter problemas e poderá voltar ao uso. Portando, pratique os princípios que foram apresentados neste texto, faça sua parte e viverá o milagre.
Funcionou para mim, funcionará para você!

Cicatrizes da droga



Um novo jeito de sentir.


Caminhei por mundos tenebrosos, onde a vida era somente frestas de luz, uma luz toldada de drogas, de rebeldia, de revolta e medo. Mas este medo se evaporava quando eu conseguia mais drogas, porque eu ficava “forte”, ficava “feliz”, era “livre”, e com isto eu ia levando minha vida, cada dia mais longe da minha família e mais perto da “boca”.
Foi difícil o momento em que pedi ajuda, pedi socorro, porque eu sabia que iriam me tirar todo o prazer da vida, toda a sensação de felicidade. Eu não era tolo, eu sabia que meu organismo ia gritar por drogas, por prazer, por sensações inebriantes, e eu ia continuar, por muito tempo, a ser escravo da vontade, escravo da droga, escravo da dependência química.
Fui atrevido, porque interrompi meu tratamento pela metade, não porque eu tivesse a certeza que iria conseguir sentir felicidade sem uma “cheirada”, mas porque a claustrofobia do isolamento estava me levando ao desespero, mas também porque acreditava na minha família, ela foi a guia mestra que me guiou no meu período de recuperação.
Hoje estou a três anos sem drogas, mas aprendi a respeitá-la, não a afronto, não frequento seus pontos, não preciso provar para ninguém que sou forte e posso passar por cima dela, porque a minha força maior está no respeito ao divisor.
Reaprendi a educar minha mente, pois a plena recuperação não está só no corpo, só no organismo, está também na mente, porque somos o que pensamos, somos o que sentimos, e para sentirmos coisas boas, temos que pensar coisas boas, viver coisas boas.
Não digo que não me lembro de drogas, lembro da “lapada” da sensação boa, porém, melhor que esta sensação, é a certeza que fui mais forte que ela, que a venci, que consegui descobrir sensações novas, sentimentos novos, atitudes limpas, hoje eu olho o mundo de frente com a certeza que sou um vencedor, porque venci a mim mesmo, venci o medo de não ter alegria pura sem drogas.
Hoje meu riso é limpo, minhas emoções são sinceras, hoje minha capacidade de amar se estende a outros, e não somente a mim mesmo, porque hoje eu sou EU, um eu sem drogas, sem vícios e sem medo.
Olho meus filhos e sinto orgulho de ser um homem capaz de amá-los, alimentá-los, educá-los, porque hoje sou auto suficiente emocionalmente, não preciso de drogas para me sentir feliz, porque o olhar dos meus filhos para mim, seus risos e seus carinhos inocentes são mais inebriantes que a sensação das drogas, é a sensação da VIDA.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O Quarto Passo em Narcóticos Anónimos

Isto é um modelo daquilo que pode ser um minucioso inventário do Quarto Passo. Embora queiramos ser o mais minuciosos possível, podemos sentir,especialmente na nossa primeira tentativa, que não conseguimos responder a todas  estas perguntas. De fato,muitos de nós sentimos que isto é demasiado, mas não deixemos que isso nos  impeça de ser o mais minuciosos possível.

O Quarto Passo em Narcóticos Anónimos



“Fizemos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.”Este guia destina‐se a ser um auxílio para escrever um inventário do Quarto Passo. Éextremamente importante que o façamos com o nosso padrinho ou madrinha de NA. Se aindanão tens um(a), esta é uma boa altura para encontrares um(a) que possa guiar‐te através destes passos. Depois de leres este guia sozinho, sugerimos que o leias outra vez juntamente com o teu padrinho ou madrinha antes de dares início ao Quarto Passo. É também bom que uses outra literatura de NA, bem como as reuniões de passos, a fim de obteres mais informação sobre o Quarto Passo. Há muitos métodos de escrever inventários, e não existe uma maneira certa para toda a gente. Este guia representa a experiência, a força e a esperança de muitos adictos que encontraram a recuperação em Narcóticos Anónimos. Seja qual for o método, o nosso Quarto Passo será bem sucedido se for minucioso e destemido.

Minucioso e destemido...

O Quarto Passo pede que sejamos minuciosos e destemidos. É‐nos pedido que olhemoscuidadosamente para nós mesmos e que procuramos bem debaixo do manto de ilusões que até agora usámos para esconder a verdade de nós mesmos. Procuramos bem dentro de nós, como se entrássemos numa casa escura apenas com uma vela para nos iluminar. Caminhamos em frente, apesar dos nossos receios e da nossa resistência ao desconhecido. Precisamos de ter a boa vontade para iluminar todos os cantos de todas as salas das nossas mentes, como se as nossas vidas dependessem disso, pois a verdade é que dependem.Aquilo que procuramos aqui é um quadro completo e total de nós mesmos. Vimos que isso exige honestidade  para examinarmos os nossos comportamentos, sentimentos,pensamentos emotivos, não importa quão pouco importantes possam parecer. A nossa honestidade é importantíssima, pois conduzirá à descoberta de como a nossa doença atingiu as nossas vidas.Temos agido com uma imagem distorcida de nós mesmos, nunca olhando completamente para todo o quadro. Agora, talvez pela primeira vez nas nossas vidas, começaremos a olhar para nós mesmos tal como somos, em vez de como nos imaginávamos ou fantasiávamos. Quanto mais exato e completo for o quadro,maior será a liberdade que alcançaremos.

Devemos sublinhar aqui que ser minucioso não é o mesmo que ser perfeito. Não existemQuartos Passos perfeitos. Fazemos o melhor que pudermos o mais minuciosamente possível.Com zelo e perseverança, escrevemos o mais honestamente que pudermos. Exigirmos aperfeição de nós mesmos pode por vezes ser uma maneira de evitar o nosso Quarto Passo.Talvez também tenhamos ouvido pessoas dizer, “Se não fizeres um inventário minucioso,voltarás a usar.” Mas aqui temos de voltar atrás ao nosso Terceiro Passo e confiar em Deus sem quais quer reservas. Se nos concentrarmos no nosso receio de que o nosso inventário não venha a ser suficientemente bom, ou nos preocuparmos com aquilo que o nosso padrinho ou madrinha dirão quando o partilharmos, nunca o começaremos. Este não será o último inventário que iremos escrever. Não é necessário escrever‐se um “best‐seller”; é apenas necessário que comecemos com honestidade e sejamos o mais minuciosos que pudermos. Uma das coisas que aprendemos no Terceiro Passo foi confiar em Deus. Agora podemos ser destemidos e escrever a verdade. Este Quarto Passo é um processo tanto libertador como curativo. Pomos a nossa fé num Deus amantíssimo e confiamos em que aquilo que escrevermos será exatamente aquilo que deveremos escrever se formos minuciosos e destemidos.

...Inventário moral...

No Quarto Passo é‐nos pedido que façamos um inventário moral. Quando pela primeira vezouvimos a palavra moral, alguns de nós tínhamos concepções erradas daquilo que elasignificava, enquanto outros não fazíamos a menor ideia. A moral é simplesmente valores, os princípios que escolhemos viver hoje na nossa recuperação. Não é objectivo deste guia definir o que é moralidade, ou definir um conjunto de valores que devam ser seguidos. Reconhecemos que cada um de nós possui valores internos próprios. Podemos escolher definir o bem como aquilo que tem o poder de trazer cá para fora o melhor dentro de nós e afirmar a nossa recuperação, e o mal como aquilo que tem o poder de trazer cá para fora o pior dentro de nós e que irá contra a nossa recuperação.Olharmos para os nossos sentimentos também pode ajudar. Ao escrevermos o nosso QuartoPasso, deveremos olhar, não só para aquilo que fizemos, mas também para como nos sentimos.Os nossos princípios morais podem ter sido vagos ou indefinidos, mas existiam mesmo quando usávamos drogas. Em situações em que nos sentimos mal, ou em que sentimos que algo estava errado, era certamente porque tínhamos comprometido os nossos valores morais, ou porque não conseguíamos respeitá‐los.Quando compreendemos isto, vimos como os passos se encaixavam uns nos outros.Começámos a ver a natureza exactadas nossas falhas.Isso significava mais do que apenas os erros que cometemos. Significava olharmos bem para o erro que cometemos e chegarmos à natureza desse erro. Por exemplo, se roubámos dinheiro aos nossos pais para comprar droga, isso foi uma falha. Qual foi a natureza dessa falha? A natureza dessa falha foi o nosso egocentrismo, o nosso medo, a nossa desonestidade e faltade carinho. Fomos egocêntricos na medida em que quisemos aquilo que quisemos, à custa de outra pessoa. Tivemos medo de não conseguirmos aquilo que queríamos. Fomos desonestos, pois tirámos dinheiro sem o conhecimento ou a autorização deoutra pessoa. Não demonstrámos carinho, pois fizemos algo que magoou outro ser humano.

...De nós mesmos

É importante lembrarmo‐nos de que este é o nosso inventário. Não é o local para se registar as falhas ou os erros dos outros. Quando olhamos assim para as nossas vidas, vemos que a natureza das nossas falhas, os nossos defeitos de carácter, é aquilo que nas nossas vidas se opõe a princípios espirituais. O nosso inventário é, então, um processo de descobrir como os nossos defeitos de carácter trazem dor e preocupação, não só a nós,mas também aos outros, e como a nossa nova vida, fundada nos Doze Passos, pode trazer‐nos serenidade, conforto e alegria. Com o Quarto Passo, descobrimos aquilo que bloqueia o nosso caminho e aquilo que pode funcionar para nós.

ORIENTAÇÕES GERAIS

Quando estamos prontos para começar, pedimos a Deus que nos ajude a sermos minuciosos e destemidos neste inventário. Alguns de nós até escrevemos uma pequena oração no início do nosso inventário.O importante é que nos sentemos e comecemos a escrever. À medida que os sentimentos vêm à superfície,devemos estar dispostos a encará‐los e a continuar a escrever. Alguns deles podem ser incómodos ou desagradáveis mas, não importa o que aconteça, sabemos que Deus está conosco.Podemos sentir‐nos bem sabendo que estamos a tomar uma ação positiva para a nossa recuperação.Pedimos então a um Deus amantíssimo que nos ajude, e tentamos lembrar‐nos de que aquilo que escrevemos fica entre nós mesmos e o Deus da nossa concepção.

As orientações seguintes permitem uma estrutura para nos examinarmos a nós mesmos.Contêm os elementos básicos que usamos no nosso inventário. Para que não te atrapalhes,mantém‐te em contacto com o teu padrinho ou madrinha. Algumas sugestões práticas são:1. Segue as orientações e faz uma secção de cada vez;2. Deixa uma margem espaçada para poderes anotar quaisquer sentimentos que surjam àmedida que escreves;3. Não apagues nem risques nada, nem revejas o teu inventário.Ao longo deste guia surgem exemplos dos tipos de perguntas que fazemos a nós mesmos.Algumas dessas perguntas podem não parecer aplicar‐se a ti. São incluidas para te ajudarem no teu inventário. Escreve cada pergunta à medida que avanças no inventário. Sempre que aresposta seja um simples “sim”, faz uma lista de exemplos. Em cada situação tenta ver ondeestiveste errado, quais foram os teus motivos, e qual foi o teu papel.Ao veres o teu comportamento antes, durante e depois da adicção activa, começam a surgirpadrões.O objetivo de um minucioso e destemido inventário moral é chegar‐se à verdade, olhar‐se com firmeza para a realidade. O que tentamos fazer aqui no Quarto Passo não é ver apenas onde estivemos errados, mas compreender também qual foi o nosso papel e como podemos estar ainda a alimentar esses padrões de comportamento. A descoberta e a identificação permitem que nos libertemos dos nossos defeitos, nos passos que vêm depois. Embora possa por vezes ser embaraçoso, ou mesmo doloroso, sermos honestos com nós mesmos, quanto às nossas falhas e aos nossos defeitos de carácter, escrever apenas esta informação não poderá magoar‐nos.Revisão dos primeiros três passos. Já fizeste os primeiros três passos como teu padrinho ou madrinha.Estes passos dão‐nos a preparação e as bases necessárias para fazermos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos. Muitos de nós achávamos importante escrever os primeiros três passos. Agora, antes de escreveres o teu inventário, volta atrás e revê os teus primeiros três passos.Nesta altura somos lembrados de que é só com a ajuda de um Poder Superior, e não sozinhos, que podemos seguir em frente sem medo. Antes de começarmos a escrever, guardamos uns momentos de silêncio para pedir ao Deus da nossa concepção a coragem para sermos destemidos e minuciosos.


ESTAMOS AGORA PRONTOS PARA COMEÇAR A ESCREVER O NOSSO QUARTO PASSO.

I. Ressentimentos. Os nossos ressentimentos causaram‐nos dor. Revivemos continuamentenas nossas mentes dolorosas experiências passadas. Sentíamos raiva por coisas que tinhamacontecido e fizemos uma lista mental de ressentimentos. Estávamos arrependidos pelasespertezas que não tínhamos dito, e planeávamos vinganças que puderam, ou não, tertidolugar. Andávamos obcecados com o passado e com o futuro, e assim enganávamo‐nos a nóspróprios no presente. Precisamos de escrever agora sobre esses ressentimentos, para vermoso papel que tivemos na sua criação.

A. Faz uma lista das pessoas, das organizações e dos conceitos que ressentes. A maioria de nós começa com a infância, mas qualquer ordem serve, desde que esteja completa. Inclui todas as pessoas (pais, irmãos, amigos, inimigos, nós próprios, etc.); organizações e instituições (prisões, polícia, hospitais, escolas, etc.); e conceitos (religiões, grupos políticos, costumes sociais, Deus, etc.) que ressentes.B. Fazuma listada causa oucausasde cada ressentimento.Comcada ressentimentoexaminamosas razões da nossa raiva e como nos afectou. Estas são algumas das perguntas quefazemos anósmesmosparanos ajudarema identificar osnossos sentimentos:• Os meus sentimentos foram feridos devido ao orgulho?• A minha segurança foi de algum modo ameaçada?• Foi ameaçada alguma relação pessoal ou sexual?• A minha ambição pôs‐me em conflito com os outros?C. Comcada ressentimento tentamos ver ondeestivemoserradose qual o nosso papel na situação.Como é que em cada situação reagimos aos nossos sentimentos? Devemos ser o maishonestos possível e descobrir quais os defeitos de carácter que se revelaram nas nossas ações. Estas são algumas das perguntas que fazemos a nós mesmos:• Onde é que a ganância ou uma necessidade de poder se revelou nas minhasacções?• A que extremos é que levei os meus ressentimentos?• De que modo é que manipulei os outros, e porquê?• Como é que agi com egoísmo?• Será que eu julgava que tudo me era devido?• De que maneira é que as expectativas que tinha dos outros me causaramproblemas?• De que modo é que o orgulho e o ego se revelaram nesta situação?• Como é que o medo me motivou?D. As situações em que temos a certeza de que estivemos certos requerem umaobservação e uma discussão mais cuidadosas com o nosso padrinho ou madrinha.Responder a estas perguntas ajuda‐nos a identificar os nossos defeitos de carácter.Devemos fazê‐lo honestamente, sem ignorar nada. Onde os outros nos fizeram mal,devemos compreender que temos de parar de esperar deles a perfeição. Na nossarecuperação não há lugar para a presunção. Se quisermos vir a gozar paz de espírito,devemos aprender a aceitar os outros tal como são. 

II. Relações. Isto irá incluir muito mais do que apenas uma lista de relações sexuais. Tivemos problemas com todas as nossas relações. Muitos dos nossos defeitos de carácter vêm ao de cima e impedem‐nos de terrelações saudáveis e bem sucedidas.

A. Faz uma lista das tuas relações pessoais. Esta inclui as tuas relações com colegas detrabalho, amigos, parentes, familiares, vizinhos, etc. Examina os aspectos positivos enegativos de cada uma, sendo honesto quanto às tuas qualidades e defeitos. Evitaperderes tempo a escrever sobre os males que os outros causaram. Concentramo‐nosnas nossas falhas, e preocupamo‐nos com as áreas onde o egocentrismo e outrosdefeitos de carácter pareçam ter prevalecido. Devemos olhar para dentro de nósmesmos e analisar honestamente os nossos defeitos. Vemos como os nossos defeitosde carácter estão presentes nas nossas relações, como por exemplo a intolerância. Porvezes talvez tenhamos recusado aos outros o privilégio de exprimirem a sua opinião,e esta atitude provocou indiferença, hostilidade, e outros problemas. Tínhamos umanecessidade, gerada pelo medo, de “ter sempre razão”. Éramos desnecessariamentecríticos em relação aos outros; mas quando nos faziam críticas construtivas, éramostudo menos receptivos. Estas são algumas das perguntas que fazemos:• Quando é que fui intolerante para com os outros?• Quando é que me senti superior aos outros?• De que modo é que usei e abusei das outras pessoas?• De que maneiras é que tenteirebaixar outras pessoas?Um outro exemplo é a autopiedade. É um dos modos que utilizamos paramanipular os outros em nosso proveito. Entrávamos numa de autopiedade parapedir aos outros que mudassem ou que se adaptassem às nossas exigências; era umamaneira de evitarmos responsabilidades. Perguntamo‐nos:• Como é que usei a autopiedade para conseguir aquilo que queria?• Menti ou exagerei a verdade? Se sim, porquê?• De que maneiras é que fiz com que os outros se sentissem culpados?• Onde é que, nas minhas relações, prevaleceram a vontade própria e oegocentrismo?• Quando eu não conseguia aquilo que queria, tornava‐‐me receoso e agia desonestamente ou motivado pelo ciúme?• Estava eu tão obcecado comigo próprio que já não tinha perspectiva oucompreensão pelos outros?

B. Faz uma lista dastuasrelaçõessexuais.Esta poderá incluirrelações profundas ou pequenosnamoros, cônjuges, amantes, ou outras. Para cada relação fazemos as seguintesperguntas:• Manipulei e menti para conseguir os meus objectivos?• Preocupei‐me com a outra pessoa?• De que maneira é que mostrei isso?• Sentia‐me superior ou inferior ao meu companheiro(a)?• De que modo é que as minhas dependências me comprometeram?• Quantas vezes disse “sim” quando queria dizer “não”? Porquê?• Acabava sentindo‐me rebaixado, usado, ou abusado?• Achava eu que o sexo me poria bem e resolveria as situações?• As minhas relações acabavam em dor e tristeza para mim e para os outros?• Que tipo de companheiro(a) escolhia para estar comigo na minha doença? Issoainda é verdade hoje?• O sexo era algo que se trocava ou se vendia?• Onde é que fui desonesto nas minhas relações?• Quando é que satisfiz as minhas necessidades sexuais à custa de outra pessoa?Alguns de nós tiveram experiências sexuais que não caiem na categoria de“relações”. Precisamos de escrever sobre estas experiências e os nossos sentimentos,especialmente quando estão envolvidas a vergonha ou a culpa.

C. Com cada relação sobre a qualescreveste nassecções A e B, descreve como ela te afectou etentaidentificar os defeitos de carácter que eram aparentes. Muitos dos nossos defeitos de carácterafectaram as nossas relações pessoais. Como adictos, as nossas emoções atingem porvezes extremos – ultrapassam aquilo que é normal. Escrever o nosso inventárioajuda‐nos a ver onde a nossa adicção teve um papel importante nas nossas relaçõescom pessoas, lugares e coisas.III. Auto‐obsessão e egocentrismo. Uma parte do Quarto Passo consiste em vermos comoestivemos obcecados com nós próprios.Muitos dos nossos sentimentos, e mesmodefeitosdecarácter, têm origem no nosso total egocentrismo. Somos crianças pequenas que nuncachegaram a crescer. Durante a nossa adicção activa, e talvez também em recuperação,concentrámo‐nos continuamente nas nossas exigências, nas nossas necessidades, nos nossosdesejos. Queríamos que tudo nos fosse dado. Não queríamos fazer qualquer esforço oupagar qualquer preço. Descobrimos que exigíamos demasiado a tudo e a todos. Queríamosque as pessoas, os lugares e as coisas nos tornassem felizes e contentes, fosse como fosse.Agora, em recuperação, vemos que só Deus pode conseguirisso.Através do nosso Quarto Passo, temos estado a olhar para situações a fim de vermosaquilo que estava por detrás das nossas acções. É também útil que nos concentremos nossentimentos. É importante aprendermos a identificar os sentimentos que podemos estar aatravessar. Podemos querer procurar palavras no dicionário para começarmos a aprendero que elas querem dizer. É fácil dizermos, “Sinto‐me mal com aquilo”, mas temos de irmais fundo do que isso e compreender que sentimentos são. Eis uma lista de palavras quepodem ajudar‐te a concentrar nos sentimentos: culpa, vergonha, intolerância, auto piedade, ressentimento, raiva, depressão, frustração, confusão, solidão, ansiedade, deslealdade, desespero, fracasso, medo, negação, arrogância e  inadaptação.

A. Examina cada um dos sentimentos acima, bem como outros que tenhas identificado no teuinventário. Daqueles que sentes frequentemente, faz uma lista de várias situações emque eles costumem surgir. Examina as circunstâncias de cada situação. Faz uma listadas razões porque te sentiste assim. Pergunta a ti próprio:• Como é que este sentimento me afectou?• Este sentimento seria adequado à situação?• O meu comportamento foi adequado à situação?• Recordou‐me de alguma coisa?

B. Com cada sentimento e situação, tenta ver onde é que semanifestarama auto‐obsessão eo egocentrismo.Pergunta:• Nesta situação estava a sentir‐me ou a agir com presunção?• Comportei‐me de modo egoísta?• O que é que eu esperava de mim mesmo ou dos outros?• Insisti em que tudo fosse como eu queria ou zanguei‐me quando assim não era?• Como é que reagi aos meus sentimentos?IV. Sentimentos de vergonha e de culpa. Uma das racionalizações mais frequentes queinventamos para não fazer o Quarto Passo são os nossos “mais profundos segredos”.Aquelas situações que nos causaram tantos sentimentos de vergonha e de culpa, as coisaspara as quais nunca de facto olhámos, são quase sempre as mais difíceis de escrever e departilhar. A falta de vontade para encarar essas situações pode constituir um obstáculogrande na nossa recuperação. Ao lidarmos com a vergonha e a culpa, devemos lembrar‐nosde que houve muitas coisas que aconteceram devido à nossa doença. É importantecompreendermos que não somos responsáveis por muitas das coisas que fizemos na nossaadicção, embora sejamos, sim,responsáveis pela nossa recuperação.Até este ponto no teu inventário já deves ter posto a descoberto alguns sentimentos devergonha. É muito importante que continues a explorar aquelas situações, pois estessentimentos estão na basede tantasdas nossas acções.Porisso encorajamos‐te a escrevereso mais honestamente que puderes.Escrevemos sobre situações que nos fazem sentir culpa. Escrevemos também sobresituações onde de facto não tivemos a culpa. Por vezes assumimos a culpa por situaçõesque não foram da nossa responsabilidade. É importante que olhemos também para istocom cuidado, para que possamos identificar os sentimentos e ver como eles ainda podemestar a afectar‐nos hoje.

A. É importante identificarmos também os nossos sentimentos e os nossos defeitos de carácternestassituações. Pergunta a ti próprio:• Há alguma coisa que eu nunca tenha contado a ninguém?• O que é que fazia com que isso constituisse um segredo?• Houve algumas experiências (por exemplo, sexuais, financeiras, familiares ouprofissionais) que tenham criado sentimentos de vergonha ou de culpa, ouconfusão?• Provoquei ou recebi abusos físicos?• Onde é que o medo e o egocentrismo se manifestaram?• Porque é que me agarrei aos sentimentos de culpa e de vergonha?• Como é que reagi quando as coisas não correram como eu esperava?• Culpei‐me a mim próprio pelo comportamento errado de outra pessoa?• Como é que os meus sentimentos de vergonha ede culpa afectaram outras áreas daminha vida?V. Situações em que nos sentimos vítimas. Ao longo das nossas vidas podemos nos ter visto a nós mesmos como vítimas. Podemos nos ter sentido assim por várias razões. Por exemplo,quando crianças, alguns de nós fomos abusados física, mental e/ou emocionalmente. Fomosvítimas no verdadeiro sentido da palavra, pois não tínhamos poder para nos protegermosde ser magoados. Infelizmente, e por um motivo qualquer, muitos de nós desenvolvemosum hábito de reagir constantemente à vida e ao mundo como se fossemos sempre vítimas.Querermos sentir‐nos desamparados, querermos ser salvos, e não tomarmos qualquerresponsabilidade por nós mesmos, são aspectos nítidos da nossa doença. Culpámos ouressentimos os outros por todos os nossos problemas, incapazes de vermos o nosso papelnesses mesmos problemas. É um ciclo que se alimenta a si próprio. Encontrámo‐nos, vezapós vez, em situações nas quais nos tornámos vítimas ou atormentados.Ao revermos o nosso passado, vimos que temos de olhar para as situações em quepossamos ter iniciado ou sido os receptores de relações abusivas. Sofremos de uma doençaautodestrutiva que faz aumentar este tipo de problemas.Onosso desejo de recuperaçãopodetornar particularmente importante a necessidade de os inventariar com algum pormenor.Uma honesta avaliação destas situações dá‐nos uma nova perspectiva e ajuda‐nos a ver como nos colocávamos a nós mesmos como vítimas. Através deste processo,temos a oportunidade de nos vermos livres dos nossos pensamentos e das nossas reações de vítima.

A. Respondemos a perguntas como estas:• Senti‐me vítima em alguma das situações que já descrevi (ou noutras que nãodescrevi)?• Que expectativas tive dos meus pais?• Ainda tenho hoje essas expectativas?• Que comportamento tinha eu em criança, quando não conseguia o que queria?• Como é que reajo hoje, quando não tenho aquilo que quero?• De que modo ajo hoje como vítima?• Que sentimentos tenho nessas situações?• Qual é a relação entre a minha auto‐estima e essas situações?• Qual é a minha responsabilidade por este padrão se manter?VI. Medo. Tendo examinado com cuidado o nosso egocentrismo, os nossos ressentimentos, e as nossas relações, vemos que o medo, a dúvida e a insegurança têm estado no centro de muito do nosso comportamento. Queríamos aquilo que queríamos, quando o queríamos, eassustava‐nos pensar que talvez não pudéssemos tê‐lo. A verdade é que receávamos quenão cuidassem de nós. Muitos dos nossos defeitos e das suas manifestações foram simplesmente tentativas desajeitadas para conseguirmos aquilo que queríamos e cuidarmosde nós mesmos. Se virmos bem, descobriremos que temos medo de quase tudo. Os nossosreceios têm nos impedido de fazermos aquilo que queríamos fazer, e de nos tornarmos naspessoas que queríamos ser.

A. Fazemos uma lista de todos osnossosmedos.Estes incluem:medododesconhecido,medodador, medo da rejeição, medo de sermos abandonados, medo da responsabilidade, medodo compromisso, medo de crescer, e medo do sucesso e/ou do fracasso. Receávamosnunca vir a ter o suficiente daquilo que queríamos, ou perder aquilo que tínhamos.

B. Respondemos a estas perguntas sobre os nossos medos:• Porque terei este medo?• Como é que este medo me paralisa ou me impede de mudar?• Terei medo porque sinto que só posso depender de mim mesmo?• Como é que reajo a este medo?• Como é que este medo se manifesta hoje na minha vida?VII. Qualidades. Examinámos as nossas acções, os nossos sentimentos, e pusemos a descoberto anatureza exacta das nossas falhas. É agora altura de olharmos para as nossas qualidades.Lembra‐te de que um exame de nós mesmos deverá incluir as qualidades de carácter,bem como os defeitos. Ao olharmos para o nosso comportamento, é importante vermos deque modo queremos mudar. As nossas qualidades dão‐nos os ideais pelos quais lutar.Adquirimos humildade quando reconhecemos honestamente que somos seres humanos,nem completamente bons, nem completamente maus. Somos feitos de qualidades e dedefeitos, e há sempre possibilidades de melhorar. Se não conseguirmos encontrar coisasboas em nós mesmos, precisamos de procurar um pouco melhor. Se formos minuciosos,decerto descobriremos algumas qualidades. Esta lista poderá ajudar‐te a identificaresalgumas qualidades em ti:boa‐vontade ,fé ,honestidade, mente aberta, consciência de Deus, paciência, aceitação, acção positiva, coragem, partilha, generosidade, confiança, bondade, carinho, perdão, tolerância, estar limpo, amor e gratidão.

Estas qualidades fazem‐nos ver que não somos as “pessoas más” que julgávamos ser, edão‐nos a coragem e a força para continuar. Estamos limpos, temos a boa vontade paramudar e para crescer, e estamos a tomar acções positivas pela nossa recuperação.Colocámos a nossa vontade e as nossas vidas ao cuidado de um Poder superior a nósmesmos, e estamos a aprender a viver segundo um novo conjunto de princípios. Aoprosseguirmos com os passos, modificamos as atitudes e os comportamentos que nãoresultaram para nós ou para a nossa paz de espírito. Estamos a tentar construir vidasfelizes em recuperação e o Quarto Passo é uma clara tentativa nesse sentido.A. Escreve um parágrafo sobre cada uma das qualidades listadas acima. Tenta pensar numasituação do teu passado ou do teu presente em que essas qualidades foram aparentes.Faz uma lista de exemplos de quando praticaste essas qualidades na tua vida hoje. Étão importante nesta secção como nas outras não deixares nada de fora. Se tiveresdificuldade em identificar determinada qualidade em ti, sugerimos que fales nissocom o teu padrinho ou madrinha. Podemos também falar nisso com outros membrosque respeitemos, ou no nosso grupo.A capacidade para identificar o bem nos outros é em si uma qualidade de carácter.É agora altura de usarmos essa qualidade em nosso proveito; sermos tão bons paranós mesmos como seríamos para os outros. Descobrimos que muitas qualidadescomeçam apenas como o potencial para o serem, e só se transformam em qualidadesatravés da prática.Quais são os resultados de se fazer um minucioso e destemido inventário moral de nósmesmos? O nosso Quarto Passo ajuda a livrarmo‐nos das nossas ilusões e falsas percepções da vida, da realidade e de nós mesmos. O mundo de fantasia em que vivíamos durante a nossa adicção activa desaparece, à medida que começamos a ver e a aceitar a vida tal como ela é.Agora que pusemos os nossos segredos a descoberto, é altura de nos desligarmos deles. Aocontinuarmos a praticar os passos, os defeitos de carácter que destruiram a nossa paz de espírito começam a mudar. Vermos a natureza exata das nossas falhas mostra‐nos como somos de facto impotentes. Vemos como é fútil tentarmos viver à custa do nosso próprio poder. Ao praticarmos os passos, começamos a acreditar num Poder superior a nós mesmos. A honestidade do Quarto Passo reafirma o nosso Terceiro Passo, pois vemos, à luz da realidade, o tremendo alívio que é confiar num Poder superior a nós mesmos. Ao praticarmos os princípios espirituais da honestidade, da mente aberta e da boa‐vontade, descobrimos que o amor, a aceitação, a tolerância, a fé, o respeito por nós próprios, e a confiança, são possíveis. Quando vivemos os Doze Passos, começamos a sentir‐nos livres do passado, livres para sermos nós mesmos, e aconhecer quem realmente somos. Este processo é curativo – um grande passo em direção à liberdade. É com este espírito que nos preparamos para fazer o Quinto Passo, partilhar o nosso inventário com Deus e com outro ser humano.

 Os Doze Passos de Narcóticos Anónimos

1. Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que tínhamos perdido odomínio sobre as nossas vidas.2. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver‐nos à sanidade.3. Decidimos entregar a nossa vontade e as nossas vidas aos cuidados de Deus na forma em que o concebíamos.4. Fizemos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano a naturezaexacta das nossas falhas.6. Prontificámo‐nos inteiramente a deixar queDeus removesse todos essesdefeitos de carácter.7. Humildemente rogámos a Ele que nos livrasse das nossas imperfeições.8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e dispusemo‐nos areparar os danos a elas causados.9. Fizemos reparações directas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvoquando fazê‐las significasse prejudicar essas pessoas ou outras.10. Continuámos a fazer um inventário pessoal e quando estávamos errados admitimo‐loprontamente.11. Procurámos, através da prece e da meditação, melhorar o nosso contato consciente com Deus na forma em que o concebíamos, rogando apenas pelo conhecimento da Sua vontade em relação a nós e pelas forças para realizar essa vontade.12. Tendo experimentado um despertar espiritual graças a estes passos, procurámos transmitir esta mensagem a outros adictos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.

Os Doze Passos são reproduzidos com autorização de AA World Services, Inc.




Tradução de literatura aprovada pela Irmandade de NA.
Copyright © 1994 by
Narcotics AnonymousWorld Services,Inc.
Todos os direitos reservados

segunda-feira, 24 de junho de 2013

É doutor, mas mantenha o respeito!




EM 1997, um juiz manda prender o Planet Hemp por apologia ao uso de drogas. Em 2003, o mesmo juiz é acusado de receber R$ 40 mil para soltar um traficante. Dez anos, depois, enfim, ele é condenado. Punição? Ganhar seu salário de R$ 28 mil inteirinho, até morrer, para nunca mais trabalhar.

Esses casos raramente se tornam públicos, ou investigados e punidos. Ainda assim não chega a ser surpresa a notícia de que um juiz recebeu propina. Muito menos de traficantes. No Almanaque, por exemplo, conto o caso de um juiz e de um desembargador federal condenados por associação com o tráfico – no caso com Fernando Beira-mar.




“Gente hipócrita”

Mas a notícia dessa condenação é bem informativa. Mostra a hipocrisia reinante no discurso da guerra às drogas.

Na porta da frente, o juiz paga de durão impedindo uma banda de fazer shows sob a acusação de apologia. Uau. Que corajoso. Na “porta dos fundos”, ele pega uma graninha para soltar um traficante. Que fácil.

“Legalize Já”

Aplausos musicais à parte, a turma do Planet Hemp foi um dos primeiros artistas do Brasil a ter a coragem de levantar a bandeira o que hoje todo mundo pelo menos comenta: legalizar a maconha.

Regulando o comércio da erva, tiraríamos o lucro da venda da droga ilícita mais consumida no Brasil (e no mundo) da mão dos traficantes. A bandidagem teria muito menos grana para comprar fuzil e corromper juízes como vossa excelência o juiz José Barreto Pinheiro. Esse é o nome do juiz traficante.

Justiça?

Outra informação que vale nota é a boa e velha impunidade que reina contra os peixes grandes neste país. Repara:

A) Se o cara pega três saquinhos de R$ 5 de maconha na boca de fumo pra vender no asfalto, ele é encarcerado como traficante e pega de 5 anos de cadeia.

B) Se o juiz em quem deveríamos confiar até o fim recebe 40 mil para soltar um chefão do tráfico que fornece saquinhos de maconha para centenas de bocas, seu castigo é parar de trabalhar para ganhar 28 mil por mês.

Que vergonha.

Ele tem uma responsabilidade muito maior pelo controle de crimes, deveria ser punido com muito mais rigor. Mas comete um crime comparado a hediondo, aliado a um peixe grande, e não dá nada!

O que destrói esse país não é o uso de drogas, é a corrupção e a impunidade.






Pra fechar esse “post protesto”, replico lá embaixo a íntegra da mensagem que o próprio Planet Hemp publicou no Facebook, sob o título de “Retrato da hipocrisia e falso moralismo da sociedade brasileira”. Falou e disse.
E recomendo a letra e o vídeo da canção (muito esclarecedora) que o juiz vencedor do Prêmio Lobo em Pele de Cordeiro do dia usou como desculpa para colocar os caras na cadeia. O juiz foi aposentado, essa música vai ficar pra sempre.

Aplausos musicais adentro, essa música está no álbum “Usuário”, certamente um dos melhores lançados por aqui nos anos 1990.





“LEGALIZE JÁ”

Planet Hemp

Digo foda-se as leis e todas regras
Eu não me agrego a nenhuma delas
Me chamam de marginal só por fumar minha erva
Porque isso tanto os interessa
Já está provado cientificamente
O verdadeiro poder , que ela age sobre a mente
Querem nos limitar de ir mais além
É muito fácil criticar sem se informar
Se informe antes de falar e legalize ganja

Legalize já, legalize já
Porque uma erva natural não pode te prejudicar

O álcool mata bancado pelo código penal
Onde quem fuma maconha é que é marginal
E por que não legalizar ? e por que não legalizar ?
Estão ganhando dinheiro e vendo o povo se matar
Tendo que viver escondido no submundo
Tratado como pilantra, safado, vagabundo
Só por fumar uma erva fumada em todo mundo
É mais que seguro proibir que é um absurdo
Aí provoca um tráfico que te mata em um segundo
A polícia de um lado e o usuário do outro
Eles vivem numa boa e o povo no esgoto
E se diga não às drogas, mas saiba o que está dizendo
Eles põe campanha na tevê e por trás vão te fudendo
Este é o planet hemp alertando pro chegado
Pra você tomar cuidado com os porcos fardados
Não falo por falar eu procuro me informar
É por isso que eu digo legalize ganja
São dez mil anos de uso
sem se quer uma morte
Se me chamar de otario
fala se se fode


O depoimento do Planet Hemp postado no Facebook, quinta-feira, 23/5/13.

“Retrato da hipocrisia e falso moralismo da sociedade brasileira.

Hoje o Tribunal de Justiça aposentou o juiz Vilmar José Barreto Pinheiro, responsável pela prisão do Planet Hemp em Brasília em 1997. Motivo: o juiz recebia propina de traficantes.

Se não uma ironia, ao menos uma escancarada safadeza do poder judiciário brasileiro.

Até quando a sociedade dará ouvidos a discursos recheados de interesses e financiados não só pela corrupção, mas pela falta de esclarecimento geral da população?

Bater no peito e levantar bandeiras contra as drogas é fácil, ainda mais com o auxílio da mídia atenta em manipular e instigar o senso comum.

Desintoxique-se! E, ao falar isso, não estamos nos referindo a nenhum tipo de substância. Desintoxique a sua percepção!

Preste atenção em quem realmente diz ser a voz da justiça desse país, condenando a liberdade de expressão de forma atroz e reflita se é essa a representação que você realmente aceita para si.”

Raves e Drogas – o segredo que ninguém esconde

 

Neste fim de semana muita gente veio a Curitiba para uma grande festa que aconteceu na cidade, uma rave bastante conhecida. Começou na noite de sexta-feira e terminou no sábado. No mesmo dia, as fotos já foram sendo publicadas. Entre amigos reunidos e pessoas fazendo pose para a câmera, uma imagem me chocou bastante. É uma fotografia que foi tirada na manhã do sábado, e mostra uma garota semi-nua na festa. Sem blusa, sem soutien e com as calças abaixadas, com a calcinha à mostra. E não, ela não estava desmaiada e não havia sido abusada por ninguém. Mesmo nestas condições, ela estava dançando. Para não expor mais ainda a garota, a fotografia não vai ser publicada. Até por que, defendo que não vale a pena condenar uma pessoa por um erro.
Com esta deixa, quero muito comentar sobre uma coisinha que todo mundo sabe, mas mantém em segredo: a relação íntima entre raves e drogas. Esta rave à qual me referi no primeiro parágrafo, nos últimos anos tomou proporções tão grandes que se tornou uma das mais populares do país, cheia de atrações inimagináveis e surpresas deslumbrantes. Eu estive na primeira edição desta festa, e me lembro de que ela já tinha potencial para virar o que é hoje.



Minhas experiências

Há alguns bons anos, eu adorava raves. Ia em todas, sempre convidada por DJs ou organizadores, e fiz muitas amizades das quais, algumas, carrego até hoje. Eu fazia parte do grupo que criticava as “festas comerciais”, que eram frequentadas por pessoas que queriam resgatar a pior parte do Woodstock: a falta de noção. Meu grupo preferia as festas menores, as privates – ou, como nós chamávamos, PVTs. Nos reuníamos para jogar conversa fora, apreciar a música eletrônica, dançar até cansar e fazer novos amigos.

Destes amigos, poucos restaram. Afinal, nem todas as amizades são intensas e resistem ao passar do tempo – isso é normal, confundimos conhecidos com amigos. Um deles foi preso em flagrante por tráfico internacional de drogas e alguns outros morreram de overdose. Dois estão por aí, vivendo em busca de trocados para comprar crack. Por um motivo eu não estou nas ruas junto com eles. Não me deixei levar pelas balinhas coloridas e pelos papeis que derretem na boca. Estes dois elementos, o doce lisérgico e o ecstasy (que na maioria das vezes é uma mistura vagabunda e alucinógena de MDMA, e não uma anfetamina) movimentam, em cada uma das grandes festas, milhares de reais nas mãos de seus vendedores. Eu sei, eu os via.

Eu via o dinheiro que eles guardavam nos bolsos, os bolos de dinheiro que mal cabiam dentro dos bolsos. Ah, eu era curiosa, perguntava tudo. Acho que era tão simpática que eles viviam me oferecendo as drogas, e eu não precisava nem pagar por elas. Mas respondia “não, hoje eu já tomei as minhas” ou “muito obrigada, mas vou recusar porque combinei de dividir com uma amiga”. Inventava qualquer desculpa, mas nunca aceitei. A tal da maconha eu também não fumava. Eu me sentava na roda dos maconheiros, conversava e cantava as músicas que os violões exalavam. Mas nem cigarro eu fumava e nem cerveja eu bebia.

As raves eram muito divertidas, para quem sabia se divertir. Eu sabia, e como sabia! Dançava deixando a música libertar meus movimentos, conversava com todo mundo, tirava centenas de fotos, pedia música aos DJs, que já eram ou se tornaram meus amigos e, quando eu me cansava, dava uma cochilada no pufes do chillout, a área coberta e com música mais tranquila das festas. Meus pais me ligavam a todo momento para saber se estava tudo bem, se eu queria que fossem me buscar e a que horas eu iria para casa. Às vezes tínhamos dificuldade para nos comunicar, porque as festas aconteciam em chácaras muito afastadas e o sinal de celular deixava a desejar. Mas eles sempre sabiam onde eu estava e recebiam notícias durante toda a festa. Eles até já me acompanharam em algumas! (Inclusive, essa foto do post sou eu e meu pai em uma rave)



Mercado (nem tanto) oculto

Mas tem o negócio das drogas. Eu achava que experimentar não tinha problema, e sempre deixava meus amigos à vontade para provarem o que quisessem, apesar de eu não ter este interesse. Algumas amigas experimentaram uma ou duas vezes e nunca mais se interessaram. Outras usaram até se acabar. Uma começou a perder a memória e ter atitudes agressivas de repente. Dizíamos que não dava mais para chegar perto dela. No meio da conversa ela se esquecia de quem eu era e queria me atacar. Que coisa louca, né? Efeito do MDMA, ou do LSD… Um médico saberia explicar melhor.

Nas raves a droga impera. Pode não ser a intenção dos organizadores (e eu só digo isso para defendê-los, porque acredito no contrário), que até contratam seguranças para executar a intolerância com as drogas. Ah, eu já vi um segurança tendo uma overdose, numa festa com 6.000 pessoas, em 2006. As manhãs nessas festas podem ser filmes de terror para os mais observadores. Porque os fritos – aqueles que exageraram nas drogas – amanhecem com caretas grotescas e dançando numa velocidade sobrehumana. Com os corpos dominados pela bala. Um negócio horrível. Eles entram nas caixas de som e as abraçam com todo o amor do mundo, sobem nas estruturas do palco, tiram as roupas, se jogam no chão. São zumbis.

As balas e os doces, naquela época, eram as drogas das raves. Hoje, imagino que ainda sejam. Quem exagera na bala desidrata e tem que tomar muita água. Já vi uma moça ter overdose de água, dá pra acreditar? Tomou tanta que as células se afogaram, foi o que o médico da ambulância me disse – eu era curiosa. A bala também faz a pessoa ficar se mordendo,não sei por quê. Mas as organizações sabem disso, e em 2006 começaram a vender pirulitos nas praças de alimentação. Assim, o frito morde o pirulito em vez de morder a própria boca. Simpático, não?

Lembrando-me de tudo isso, já não penso mais que experimentar não tem problema. Tem problema sim, porque existe um perigo: o risco de gostar. É aquilo que a gente ouve dizer, que quando a pessoa gosta da droga, vai querer sempre mais. Vi este processo acontecendo com tanta gente que não posso negar que seja verdade. Tratando-se de drogas, não dá para pensar duas vezes. É preciso ter sempre um “não” na ponta da língua.


Os 10 Mais Incríveis Anúncios de Drogas em Produtos


Cerca de uns 100 anos atras, no seculo passado, com certeza não existiam os mesmos conceitos de drogas que existem hoje em dia
Muitas delas eram vendidas em produtos comuns, como xaropes, remédios, vinhos (...)
E ate algumas bebidas. Inclusive o refrigerante mais adorado de todos os tempos, Coca Cola, tinha drogas em suas primeiras versões
As substancias ilícitas, em sua grande maioria cocaina, heroina & morfina, estavam presentes na maioria desses produtos antigos do seculo 19
Todas essas drogas, no seculo passado, eram tidas como substancias farmacêuticas, estimulantes ou calmantes


10º
A heroína de Bayer (1890-1910) era um remédio pra tosse para crianças.


O vinho de cocaína Metcalf era só uma das muitas bebidas alcoólicas com teor de folha de coca.


O vinho Mariani (1865) sendo a mais importante bebida a base de cocaína da sua época, foi consumido pelo Papa Leão XIII que premiou seu criador Angelo Mariani.


O vinho Maltine, feito pela Maltine Manufacturing Company de New York tem uma dosagem que diz: - "Uma taça cheia junto com, ou apos as refeiçoes. Crianças em proporção."


Esse selo promocional anuncia a empresa alemã Boehringer & Soehne como a maior produtora mundial de quinino e cocaína.


A heroína era usada como analgésico, remédio contra asma & pneumonia. Acima um anuncioMartin H. Smith Company, de New York, promovendo o uso de glico-heroína.


O opio Vapor-OL era aquecido com lampião e usado contra asma e afecções espasmódicas.


Esses tabletes de cocaína eram frequentemente usados por cantores, oradores, professores, e diversos outros tipos de profissionais que precisavam falar em publico. Funcionavam como anestésico pra dor de garganta, alem de deixa-los mais "animados" e "dispostos".


Balas de cocaína (1885) eram muito populares e consumidas entre as crianças. Serviam para acabar com a dor de dente das crianças, alem de "melhorar" o humor delas.


Acalmar bebes e faze-los parar de chorar sempre foi uma tarefa dificil. Stickney and Poor foi uma especie de calmante a base de heroína (opio) e álcool feito para acalmar recém-nascidos.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

"Brasil dorme mas não para"

"Era um país
Muito engraçado,
Faltava escola,
Sobrava estádio!
Governo vinha
... Com enrolação,
Quem discordava
"Ó o camburão!"...
Cada pessoa
Tinha que ser burra,
Pois do contrário
Levava surra!!
Ninguém podia
Protestar não,
Porque a PM
Sentava a mão!!
Um belo dia
Tudo mudou,
Esse país
Enfim acordou!!
O povo disse:
"Chega, não mais!"
Enfrentou balas
Suportou gás!!
Não é apenas
Por vinte centavos,
Pois do sistema
Somos escravos!!
Lutemos pois,
Pela verdade
E conquistemos
A liberdade!!
Seguindo vamos,
Todos unidos,
Sem depender
De podres partidos!
E o resultado
É que essa união
Pode acabar
Em REVOLUÇÃO!!"

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Pense Nisso !

... "Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional." (Roger Crawford)


Reflexão


Culpado ou inocente ?


Conta uma antiga lenda que na Idade Média um homem muito religioso foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. Na verdade, o autor do crime era pessoa influente do reino e, por isso, desde o primeiro momento se procurou um "bode expiatório" para acobertar o verdadeiro assassino.

O homem foi levado a julgamento, já temendo o resultado: a forca. Ele sabia que tudo iria ser feito para condená-lo e que teria poucas chances de sair vivo desta história.

O juiz, que também foi comprado para levar o pobre homem à morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado para que este provasse sua inocência.

- Sou de uma profunda religiosidade e por isso vou deixar sua sorte nas mãos do Senhor: vou escrever num pedaço de papel a palavra INOCENTE e no outro pedaço a palavra CULPADO. Você sorteará um dos papéis e aquele que sair será o veredicto. O Senhor decidirá seu destino - determinou o juiz.

Sem que o acusado percebesse, o juiz preparou os dois papéis, mas em ambos escreveu CULPADO de maneira que, naquele instante, não existia nenhuma chance de o acusado se livrar da forca.

Não havia alternativas para o pobre homem. O juiz colocou os dois papéis em uma mesa e mandou o acusado escolher um. O homem pensou alguns segundos e, pressentindo a "vibração", aproximou-se confiante da mesa, pegou um dos papéis e rapidamente colocou na boca e engoliu. Os presentes ao julgamento reagiram surpresos e indignados com a atitude do homem.

- Mas o que você fez? E agora? Como vamos saber o seu veredicto?
- É muito fácil. - respondeu o homem - Basta olhar o outro pedaço que sobrou e saberemos que acabei engolindo o contrário.

Imediatamente o homem foi liberado.

MORAL DA HISTORIA:

Por mais difícil que seja uma situação, não deixe de acreditar até o último momento. Saiba que, para qualquer problema, há sempre uma saída. Não desista, não entregue os pontos, não se deixe derrotar. Vá em frente apesar de tudo e de todos, creia que pode conseguir.

Agência europeia alerta para surgimento de mais drogas sintéticas


A agência que monitora o uso e surgimento de novas drogas na União Europeia (UE) informou ter descoberto 72 novas drogas sintéticas no bloco em 2012 e alertou que esses novos entorpecentes, ainda não proibidos pela legislação europeia, estão surgindo com cada vez mais frequência na região.

A informação consta do relatório anual do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência(OEDT), divulgado na última terça-feira em sua sede em Lisboa, que ressaltou que apenas 49 novas drogas sintéticas haviam sido detectadas no bloco em 2011.

O relatório diz que, entre as 73 novas substâncias psicoativas registradas pela primeira vez por meio do sistema de alerta da União Europeia em 2012, 30 eram canabinóides sintéticos, que imitam o efeito da maconha. "Estes produtos, que podem ser extremamente potentes, agora já foram registrados praticamente em todos os países europeus", informou o documento.

Importação da Ásia

O documento descreveu também o problema das drogas na Europa como em "estado de constante mudança". De acordo com o OEDT, cerca de 85 milhões de pessoas, ou aproximadamente um quarto da população adulta da União Europeia, usou alguma droga ilícita no ano passado.

Por outro lado, o relatório anual da agência destacou também mudanças positivas no bloco, como o registro de um menor número de novos usuários de heroína, a queda no uso de maconha e cocaína em alguns países e um aumento no número de centro de tratamentos para usuários de drogas.

O documento ressaltou, ainda assim, a necessidade de as autoridades nacionais estabelecerem planos de apoio de longo prazo para dependentes e ex-dependentes em meio aos cortes de gastos dos governos europeus, reflexo da crise econômica.

Em um outro estudo separado conduzido com a Europol, a agência de polícia da União Europeia, o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência descobriu que as drogas sintéticas agora são importadas frequentemente da China e Índia para serem processadas e embaladas no bloco, em vez de serem produzidas em laboratórios secretos na Europa.

A Comissária Europeia para assuntos internos da UE, Cecilia Malmström, afirmou que o mercado de drogas estimulantes no continente está "cada vez mais complexo" e que "há um fornecimento contínuo de novas drogas cada vez mais diversas."
"O fato de mais de 70 novas drogas terem sido detectadas no ano passado é prova de que as políticas de combate às drogas precisam se adaptar às mudanças nos mercados", acrescentou.

Drogas: a terceira via e o Brasil


Com a ousadia do tempo em que navegar era preciso, Portugal mudou sua legislação voltada a enfrentar as drogas ilícitas. Inovou, apresentando saída ao maniqueísmo estabelecido entre o proibicionismo e a liberação para consumo próprio. Abriu caminho para os países do Terceiro Mundo, até agora sem legitimação para cogitar da liberação, pois a mesma condiciona-se ao dever de oferecer tratamento e à obrigação de disseminar informação adequada sobre as drogas.

A adoção de uma política de liberação tornou-se privilégio de países ricos, sem a precariedade de um SUS nacional ou do engodo de um PAS paulistano.
A liberação de drogas implica a oferta de um eficiente sistema de saúde pública, pronto a atender emergências decorrentes de overdose e outros tipos de acidente. Um sistema capaz de fornecer internação no caso de transtorno mental agudo, além de tratamento ambulatorial para o interessado em deixar a dependência e o consumo.
Pelo trato humano dado à questão das drogas, a legislação portuguesa arrancou elogios e se tornou referência. No Brasil, dando sequência a um projeto de lei apresentado em 1996, será, ainda neste agosto, votada a substituição da lei nº 6.368, de 1976, sobre drogas. O aditado projeto, com parecer da Comissão de Educação, a cargo do senador Ricardo Santos (PSDB-ES), deveria ter sido apreciado no final de junho. Acabou retirado da pauta, pois a sociedade reagiu contra o desprezo às políticas voltadas à redução de danos, praticadas com sucesso na Europa e abominadas pelos últimos governos dos EUA, que só colheram fracassos nas suas tentativas de reduzir a demanda e a oferta. Em tempo de distribuição de preservativo e troca de seringas para a contenção da Aids, o projeto não dedicou nenhuma linha à redução de danos, optando implicitamente pela linha da abstenção.
Diferentemente do português, o nosso emendado projeto não levou em conta o compromisso assumido pelo Brasil na ONU, em 98. Convém recordar ter o presidente FHC se comprometido a adotar medidas de resgate da dignidade e da cidadania dos usuários e dependentes químicos de drogas. À época, as preocupações da ONU centravam-se na marginalização de 8 milhões de dependentes químicos espalhados pelo planeta e de 14 milhões de usuários de drogas ilícitas radicados nas Américas.
O antigo secretário-geral da ONU Pérez de Cuellar, outras lideranças internacionais importantes (como Lula) e até o especulador George Soros subscreveram um documento preconizando o fim da proibição do consumo de drogas, ou seja, a sua legalização para uso próprio. Tal ofensiva, no entanto, arrefeceu quando o Canadá apresentou uma pesquisa sobre o custo social da droga ilícita, lá estimado em 4% do PIB. Levaram-se em conta mortes, acidentes, reduções de capacidade laborativa, aposentadorias precoces por invalidez e outros 90 indicadores de danos.

A partir daí é que começou a ser pavimentada a chamada terceira via, encampada por Portugal. O legislador português manteve a proibição do porte de droga para uso próprio, mas deixou de considerar crime o uso. Retirou do usuário e do dependente o rótulo de criminosos, afastando a toxicomania das repressões policial e judiciária. O porte e o uso, ainda proibidos, tornaram-se infrações administrativas, não mais questões judiciárias. Multiplicaram-se os postos médicos para atendimento e internação. Pelo cometimento da infração, paga-se multa administrativa e o infrator recebe sugestões de comissões compostas por psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais. Tais comissões não são integradas por policiais, promotores ou juízes. Esses são incumbidos apenas da repressão ao tráfico e do ataque ao crime organizado.
O projeto brasileiro, ao contrário, continuou a considerar o usuário e o dependente criminosos, sujeitando-os à jurisdição penal. Não regulou o artigo 5º, inciso XIII, da Constituição, que só permitiu a realização de exames químicos e toxicológicos nas pessoas com funções ou ocupações que põem em risco a segurança coletiva: policiais, pilotos de aviões, motoristas de ônibus, gerentes de usinas nucleares etc. Pela omissão, deixou espaço para a perpetração de abusos: contratos individuais de trabalho estão sendo celebrados, com o empregado renunciando ao direito constitucional à intimidade, ao concordar com os rotineiros testes.
Abriu-se o projeto ao modelo americano dos Tribunais para Dependentes Químicos, que viola princípios elementares de direitos humanos. Apoiou-se numa relação de crime e castigo, constrangendo o flagrado com droga para consumo próprio a tratamento compulsório. Sustentou-se na ameaça de sanção, imposta nas hipóteses de interrupção de tratamento ou reincidência. Essa foi a técnica americana para impedir, na América Latina, a adoção de políticas européias de redução de danos.
Outro ponto negativo foi não haver o projeto revogado a lei que permitiu o abate de aeronaves suspeitas de tráfico de drogas. Essa lei inconstitucional introduziu a pena de morte pela via sumária. Utilitarista e desumana, impôs a morte aos tripulantes inocentes, como ocorreu recentemente no Peru.
Manteve o projeto, ainda, a chamada "Lei dos 13 Graus", que permite, em qualquer horário, propaganda de bebidas alcóolicas fermentadas, como a cerveja. Ainda sob influência americana, o projeto admitiu, nas escolas, que policiais, substituindo especialistas, continuassem a ministrar cursos de prevenção voltados à redução de demanda pelas drogas. Ora, deveriam os policiais, diante da especialidade que detêm, cuidar da prevenção ao crime de tráfico.
A respeito, várias polícias militares se envolveram, como ocorreu no Estado de São Paulo e na cidade do Rio de Janeiro, no programa americano chamado Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência), há anos abandonado nos EUA. O programa, bancado no Brasil pela embaixada americana, vem apoiado no binômio lei e ordem, servindo o policial fardado como modelo às crianças, tidas como futuras combatentes das drogas.
Para rematar, o projeto, mantida a última redação, não mais considerará crime o tráfico de cocaína, de maconha e de várias drogas sintéticas. Apenas tipificará como crime o tráfico de entorpecentes e de drogas causadoras de dependência física. Portanto não enquadra como crime o tráfico de cocaína, de maconha. Segundo grandes especialistas, tais drogas não causam dependência física e não são entorpecentes.
O caminho lusitano é bem melhor.


WÁLTER MAIEROVITCH

Ao menos 1/4 dos adultos da Europa já usou drogas ilícitas, diz relatório do OEDT


O relatório anual divulgado pelo Observatório Europeu de Drogas e Toxicomanias(OEDT) nesta terça-feira advertiu que o mercado de entorpecentes está "mais fluído e dinâmico", com a internet representando desafios "cada vez maiores".

O documento apontou que 85 milhões de europeus adultos consumiram alguma droga ilícita em algum momento de suas vidas. Esse número equivale a um quarto da população adulta do continente. Enquanto que o consumo de cocaína e heroína seguem em queda e o de maconha se mantém, em 2013 se detectou que o uso de outras drogas continua em números altos.

Ainda de acordo com o Observatório, o esforço contra as drogas ilícitas na Europa enfrenta "novos desafios", como a globalização e a inovação tecnológica, e pode ser afetada pelo desemprego dos jovens e pelos cortes de gastos na saúde provocados pela crise econômica.

No Relatório Europeu sobre Drogas 2013, o Observatório também alerta para a necessidade de investir mais em políticas de saúde dirigidas aos toxicodependentes, sobretudo para tratar a hepatite C e prevenir as intoxicação aguda(overdoses).

O OEDT estima também que "pelo menos 1,2 milhão de pessoas receberam tratamento por consumo de drogas ilegais na Europa em 2011", um recorde, mas insiste "na necessidade de concentrar esforços na continuidade da assistência e na criação de um consenso sobre o que deve ser entendido como tratamento a longo prazo", tendo em mente o exemplo da recuperação de dependentes de heroína, que pode se prolongar por vários anos.

"Com a Europa ainda a enfrentar um crescimento econômico negativo, um aumento das taxas de desemprego e de cortes na despesa pública, existe o risco dos orçamentos disponibilizados para a saúde, a manutenção da ordem pública e as medidas de segurança serem afetados", declarou o presidente do OEDT, João Goulão.

Dos que iniciaram o tratamento especializado da toxicodependência, cerca de metade (47%) estavam desempregados, e quase um em cada dez (9%) não tinham uma casa estável. Este grupo caracteriza-se também por um baixo índice de escolaridade, tendo 36% completado apenas o ensino básico.

O relatório anual do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência foi, este ano, divulgado seis meses antes da data habitual, numa nova estratégia orientada para um aumento da rapidez e da eficácia, disse uma responsável da organização.

O documento, que este ano faz um o panorama pormenorizado das drogas e da toxicodependência nos países da União Europeia, na Noruega, Croácia e Turquia, é normalmente divulgado em novembro, mas o Observatório decidiu dar preferência a uma informação mais atual temporalmente.

Principais dados do relatório:

Maconha: é a droga ilícita mais consumida na Europa(77 milhões de pessoas declaram já tê-la experimentado); mais de 3 milhões de pessoas afirmam consumir maconha diariamente. Um terço delas tem entre 15 e 34 anos; em 2012, a quantidade de resina de maconha apreendida na Europa alcançou 483 toneladas, contra 92 toneladas em 2011.

Cocaína: é a segunda droga ilegal mais consumida na Europa, embora a maioria dos consumidores se concentrem em um número relativamente pequeno de países da Europa ocidental; cerca de 14,5 milhões de pessoas experimentaram cocaína pelo menos uma vez na vida e 2,5 milhões de europeus jovens (1,9% deste grupo de idade) consumiram a substância no último ano. Em 2011, foram apreendidas na Europa 62 toneladas de cocaína, uma queda de quase 50% desde o pico de 120 toneladas em 2006. As quedas mais expressivas são observadas na Península Ibérica, onde as interceptações combinadas de Espanha e Portugal caíram de 84 toneladas em 2006 a 20 toneladas em 2011.

Êxtase e Anfetaminas: Cerca de 11,4 milhões de europeus consumiram êxtase ao menos uma vez na vida e 1,8 milhão nos últimos 12 meses; 12,7 milhões consumiram alguma vez anfetaminas e 1,7 milhão de jovens adultos (de 15 a 34 anos) o fizeram no último ano. Em 2011, foram apreendidos 3,9 milhões de comprimidos de êxtase e 5,9 toneladas de anfetaminas.

Opiáceos(incluindo Heroína): é a droga que mais causa dependência, de acordo com o relatório, e a que provoca o maior número de mortes, doenças e demandas de tratamento. Cerca de 1,4 milhão de pessoas são consideradas "consumidoras problemáticas" (que injetam a droga em si mesmas ou que utilizam opiáceos de maneira regular ou ao longo de períodos prolongados). Em 2011, foram apreendidas 6,1 toneladas de heroína, a quantidade mais baixa notificada na última década e apenas a metade da apreendida em 2001.

ONU quer eliminar propaganda e promoção de cigarros


A Organização das Nações Unidas (ONU) fez na última sexta-feira, Dia Mundial sem Tabaco, um apelo para sejam proibidas todas as formas de publicidade e promoção do tabaco. A intenção é reduzir o número de novos fumantes. De acordo com a ONU, metade das pessoas que fumam morre por causa do hábito.

O tabaco é fator de risco para o surgimento de câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e doenças respiratórias crônicas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 2030 o tabaco vai matar 8 milhões de pessoas a cada ano. Quatro em cada cinco mortes devem ocorrer em países de baixa e média renda.

De acordo com a ONU, a maioria dos usuários começa a fumar antes dos 20 anos. Em todo o mundo, 78% dos jovens entre 13 e 15 anos relatam exposição regular a alguma forma de promoção do tabaco.

Pesquisa da OMS demonstrou que a proibição da publicidade de tabaco é uma das maneiras mais eficazes de reduzir o tabagismo. Países que impuseram limite à divulgação do tabaco conseguiram redução média de 7% no consumo.

Mas, para as proibições serem eficazes, a OMS ressalta que a legislação precisa ser abrangente, uma vez que existem várias maneiras de atingir os potenciais fumantes, incluindo a inserção de produtos do tabaco em filmes e na televisão.

Cerca de 15% dos brasileiros são fumantes. A Lei Antifumo que proíbe a propaganda de cigarros em rádio e TV, em pontos de venda, como padarias e lanchonetes, e também em ambientes fechados.

França recomenda proibição de cigarro eletrônico em local fechado


Um dossiê de 200 páginas e 28 recomendações sobre cigarros eletrônicos foi entregue ao Ministério da Saúde da França na última terça-feira. O estudo, comandado por Bertrand Dautzenberg, presidente do órgão francês de prevenção ao tabagismo, foi encomendado pelo governo do país.

Entre as sugestões do documento estão a proibição do uso em locais fechados, a interdição aos menores de 18 anos e o fim da publicidade.

Proibidos no Brasil, os cigarros eletrônicos têm mais de 500 mil usuários na França, que são atraídos pela ideia de se livrar do tabagismo ou de fumar sem o ônus causado pelo cigarro comum.

O dispositivo eletrônico contém um refil com uma solução de nicotina, que é vaporizada e inalada como se fosse a fumaça do cigarro. Segundo o dossiê, ainda não é possível saber as consequências do uso prolongado do produto. O estudo recomenda o incentivo a pesquisas e sugere reduzir o limite de concentração de nicotina de 20 para 18 mg/ml.

Segundo Dautzenberg, os cigarros eletrônicos podem ser uma entrada para o tabagismo. Uma pesquisa feita por ele mostrou que 64% dos adolescentes entre 12 e 14 anos que haviam experimentado o dispositivo nunca fumaram cigarros convencionais.

CRIME E CASTIGO



Drauzio Varella

Difícil ler notícia boa na primeira página. Mas, dias desses, quando abri o jornal, só não caí de costas porque estava sentado. Vinha escrito que a Promotoria do Consumidor de São Paulo ajuizou ação contra a Souza Cruz e a Philip Morris Brasil, para que compensem os gastos públicos com as doenças causadas ou agravadas pelo fumo.

Explico as razões pelas quais o referido espanto por pouco não me transformou em mais uma das vítimas involuntárias do cigarro. Há anos defendo que os fabricantes de cigarro paguem pelo tratamento das doenças que disseminam impunemente.

A Souza Cruz, que não é do senhor Souza e muito menos do senhor Cruz, e a Philip Morris, que não sei se algum dia pertenceu aos senhores Philip ou Morris, dominam mais de 80% do mercado nacional. Em linguagem mais precisa, fornecem droga para 80% dos dependentes de nicotina do país.

É um mercado cativo de mulheres e homens induzidos ao vício na puberdade e adolescência. São milhões de crianças arregimentadas por meio da publicidade criminosa
que ligou o cigarro à liberdade, à performance esportiva e ao sucesso nas conquistas amorosas, veiculada sem restrições legais pelos meios de comunicação de massa até pouquíssimo tempo atrás.

Em matéria de dependência química, a nicotina é imbatível. Vicia mais que cocaína, heroína, crack, álcool, anfetamina ou qualquer droga já inventada. Em 40 anos de profissão, perdi a conta dos que sucumbiram às doenças causadas pelo fumo sem conseguir livrar-se dele, por mais que tenham tentado. Por entender que os fabricantes de cigarro são responsáveis por vender uma droga que provoca câncer, enfisema, derrames cerebrais, ataques cardíacos e uma infinidade de outras patologias, tanto nos fumantes como nos que têm o azar de conviver com eles, o governo dos Estados Unidos processou as principais
indústrias do setor com o objetivo de forçá-las a indenizar o sistema de saúde. Da batalha judicial, resultou um acordo celebrado em 1998. As empresas comprometeram-se a pagar US$ 206 bilhões, no período de 25 anos, para indenizar 46 Estados americanos. Flórida, Mississipi, Minnesota e Texas optaram por acordos isolados.

Na matéria publicada pelo jornalista Daniel Bergamasco, a assessoria da Souza Cruz faz questão de “ressaltar que a comercialização de cigarros no Brasil é atividade lícita e amplamente regulamentada e tributada pelo poder público, e que os riscos associados ao cigarro são de amplo conhecimento público há décadas”.

Sem entrar no mérito do papel a que determinadas pessoas se sujeitam para ganhar a vida, é importante deixar claro que, de fato, os malefícios do cigarro são conhecidos há décadas. Pena que só pudessem chegar aos usuários mais esclarecidos (e só a eles) tão recentemente, porque as companhias citadas, em compadrio obsceno com suas congêneres, tradicionalmente arregimentaram médicos e cientistas de aluguel para criticar qualquer estudo que porventura demonstrasse a relação entre cigarro, doença e mortalidade. Sem falar no imenso poder intimidatório das verbas publicitárias na hora de calar a imprensa
mundial.

Quem perpetrou tais crimes por mais de 50 anos, com o objetivo de universalizar uma epidemia causadora de mais mortes do que as guerras do século 20 somadas, por acaso tem idoneidade para dizer que fumantes adoecem por ignorar os avisos de que o cigarro mata?

Na cadeia, conheci um traficante de crack que usava a mesma lógica, porém com mais honestidade de princípios: “Eu vendo a morte, mas não induzo ninguém a comprar”.

A ação indenizatória ora proposta coloca a Justiça brasileira diante de uma questão
crucial: a vida de um cidadão americano vale mais? Se nos Estados Unidos as companhias pagam mais de US$ 200 bilhões, por que razão no Brasil merecem ficar impunes? Talvez porque sejamos mais ricos? Ou devemos aceitar que somos inferiores?

A Promotoria do Consumidor de SP presta serviço exemplar à cidadania brasileira e ao nosso combalido sistema de saúde. Na pior das hipóteses, se por razões estranhas o pedido de indenização for julgado improcedente ou mofar nos escaninhos da burocracia, resta a alternativa de mover uma ação na Justiça americana.

Quando um avião cai por defeito numa peça, as famílias não processam o fabricante nos EUA?

domingo, 2 de junho de 2013

Guerra às drogas encarcera mais negros do que apartheid - Maria Lucia Karam




A juíza aposentada do Rio de Janeiro, Maria Lucia Karam, afirma que a criminalização do usuário que ainda persiste no Brasil viola declarações internacionais e e a própria Constituição brasileira. Karam faz parte da Apilcação da Lei contra a Proibição (Leap, na sigla em inglês). Segundo a juíza, a guerra às drogas nos EUA - que serve de referência para outros países - já propicia um quadro de encarceramento da população negra que ultrapassa os indíces do regime do apartheid na África do Sul.

Judicialmente, o usuário de drogas ainda é tratado como criminoso? Na sua opinião, quais mudanças na legislação poderiam tornar o relacionamento do judiciário com o usuário mais humano?

Maria Lucia Karam: Sim, o usuário de drogas ilícitas ainda é tratado como criminoso no Brasil. A Lei 11.343/2006 – a vigente lei brasileira em matéria de drogas – ilegitimamente criminaliza a posse para uso pessoal das drogas tornadas ilícitas em seu artigo 28, ali prevendo penas de advertência, prestação de serviços à comunidade, comparecimento a programa ou curso educativo e, em caso de descumprimento, admoestação e multa. A Lei 11.343/2006 apenas afastou a previsão de pena privativa de liberdade.
Não se trata de tornar o relacionamento do Poder Judiciário com o usuário mais humano. Na realidade, o mero fato de usar drogas ilícitas não deveria levar ninguém a se relacionar com o Poder Judiciário. A criminalização da posse para uso pessoal das drogas tornadas ilícitas viola princípios garantidores de direitos fundamentais inscritos nas declarações internacionais de direitos e nas constituições democráticas, aí naturalmente incluída a Constituição Federal brasileira. A simples posse para uso pessoal das drogas tornadas ilícitas, ou seu consumo em circunstâncias que não envolvam um perigo concreto, direto e imediato para terceiros são condutas que dizem respeito unicamente ao indivíduo que as realiza, à sua liberdade, às suas opções pessoais. Condutas dessa natureza não podem sofrer nenhuma intervenção do Estado, não podem sofrer nenhuma sanção. Em uma democracia, a liberdade do indivíduo só pode sofrer restrições quando sua conduta atinja direta e concretamente direitos de terceiros.

A guerra às drogas tem um cunho social? Isto é, ela atinge majoritariamente os mais pobres? Se sim, a sra. considera que essa é uma estratégia pensada propositadamente para atingir os mais pobres?

A “guerra às drogas” não se dirige propriamente contra as drogas. Como qualquer outra guerra, dirige-se sim contra pessoas – nesse caso, os produtores, comerciantes e consumidores das drogas tornadas ilícitas. Como acontece com qualquer intervenção do sistema penal, os mais atingidos pela repressão são – e sempre serão – os mais vulneráveis econômica e socialmente, os desprovidos de riquezas, os desprovidos de poder.
No Brasil, os mais atingidos são os muitos meninos, que, sem oportunidades e sem perspectivas de uma vida melhor, são identificados como “traficantes”, morrendo e matando, envolvidos pela violência causada pela ilegalidade imposta ao mercado onde trabalham. Enfrentam a polícia nos confrontos regulares ou irregulares; enfrentam os delatores; enfrentam os concorrentes de seu negócio. Devem se mostrar corajosos; precisam assegurar seus lucros efêmeros, seus pequenos poderes, suas vidas. Não vivem muito e, logo, são substituídos por outros meninos igualmente sem esperanças. Os que sobrevivem, superlotam as prisões brasileiras.
Nos EUA, pesquisas apontam que, embora somente 13,5% de todos os usuários e “traficantes” de drogas naquele país sejam negros, 37% dos capturados por violação a leis de drogas são negros; 60% em prisões estaduais por crimes relacionados a drogas são negros; 81% dos acusados por violações a leis federais relativas a drogas são negros. Os EUA encarceram 1.009 pessoas por cem mil habitantes adultos. Se considerados os homens brancos, são 948 por cem mil habitantes adultos. Se considerados os homens negros, são 6.667 por cem mil habitantes. Sob o regime mais racista da história moderna, em 1993 – sob o apartheid na África do Sul – a proporção era de 851 negros encarcerados por cem mil habitantes. Como ressalta Jack A. Cole, diretor da Law Enforcement Against Prohibition-LEAP – organização internacional que reúne policiais, juízes, promotores, agentes penitenciários e da qual orgulhosamente faço parte – é o racismo que conduz a “guerra às drogas” nos EUA.
Na Europa, a mesma desproporção se manifesta em relação aos imigrantes vindos de países pobres.
A função da “guerra às drogas” – ou do sistema penal em geral – de criminalização dos mais vulneráveis e de conseqüente conservação e reprodução de estruturas de dominação não é exatamente uma estratégia pensada propositadamente pelo político A ou B; é sim algo inerente ao exercício do sempre violento, danoso e doloroso poder punitivo.

As experiências de legalização/descriminalização das drogas têm ajudado a diminuir a violência em função do tráfico?

As experiências menos repressivas na atualidade limitam-se à descriminalização da posse para uso pessoal das drogas tornadas ilícitas. A descriminalização da posse para uso pessoal das drogas ilícitas é um imperativo derivado da necessária observância dos princípios garantidores dos direitos fundamentais inscritos nas declarações internacionais de direitos e nas constituições democráticas. A posse de drogas para uso pessoal, como antes mencionado, é uma conduta que não atinge concretamente nenhum direito de terceiros e, portanto, não pode ser objeto de qualquer intervenção do Estado.
Mas essa imperativa descriminalização não é suficiente. Não haverá nenhuma mudança significativa, especialmente no que concerne à violência, a não ser que a produção, o comércio e o consumo de todas as drogas possam se desenvolver em um ambiente de legalidade. Para afastar os riscos e os danos da proibição, para pôr fim à violência resultante da ilegalidade, é preciso legalizar a produção, o comércio e o consumo de todas as drogas.
A legalização da produção e do comércio de todas as drogas afastará a violência que hoje acompanha tais atividades, pois essa violência só se faz presente porque o mercado é ilegal. ão são as drogas que causam violência. A produção e o comércio de drogas não são atividades violentas em si mesmas. É a ilegalidade que cria a violência. A produção e o comércio de drogas só se fazem acompanhar de armas e de violência quando se desenvolvem em um mercado ilegal. A violência não provem apenas dos enfrentamentos com as forças policiais, da impossibilidade de resolução legal dos conflitos, ou do estímulo à circulação de armas. Além disso, há a diferenciação, o estigma, a demonização, a hostilidade, a exclusão, derivados da própria ideia de crime, a sempre gerar violência, seja da parte de agentes policiais, seja da parte daqueles a quem é atribuído o papel do “criminoso” – ou pior, do “inimigo”.
A produção e o comércio de álcool ou de tabaco se desenvolvem sem violência – disputas de mercado, cobranças de dívidas, tudo se faz sem violência. Por que é diferente na produção e no comércio de maconha ou cocaína? A óbvia diferença está na proibição, na irracional política antidrogas, na insana e sanguinária “guerra às drogas”.
Aliás, o exemplo de legalização que podemos invocar é o que ocorreu nos EUA na década de 1930, com o fim da proibição do álcool. O proibicionismo produziu e inseriu no mercado produtor e distribuidor do álcool empresas criminalizadas; fortaleceu a máfia de Al Capone e seus companheiros; provocou a violência que caracterizou especialmente a cidade de Chicago daquele tempo. Com o fim da chamada Lei Seca (o Volstead Act), o mercado do álcool se normalizou e aquela violência que o cercava simplesmente desapareceu.